Nesta fase de preparar listas, campanhas e programas para as eleições é comum falarmos mais sobre a política.
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Com mais frequência do que aquela que gostaria, ouço frases como "nada quero ter a ver com a política, os políticos são todos iguais" e outras semelhantes. Eu que ainda cresci a ter de fazer política clandestinamente, quando ter ideias que não fossem as do regime era um risco pessoal e significava perder oportunidades profissionais, fico particularmente incomodada.
Mas não é essa memória que gostaria aqui de invocar em nome do elogio da atividade política, mas outra mais recente.
Quando fui convidada para integrar o Governo, em 2005, hesitei muito. Era um honroso convite, mas eu não tinha sido treinada para esses cargos. O meu treino era académico, habituada a pensar com tempo, a recolher e escrutinar a informação antes de escrever e decidir. O tempo da decisão política é muito exigente e demasiado curto, quando comparado com o tempo académico, e eu temia não me habituar. Dizem que é característica de mulheres este cuidado em recusar aquilo que não se tem a certeza de fazer bem.
Seja como for, a minha resistência foi vencida e, mesmo hesitante, acabei por dizer sim. Nunca me arrependi.
Não posso esquecer a incomodidade dos primeiros meses, mas depois começou o gosto de usar o conhecimento para influenciar a ação concreta e desenvolver projetos que melhoram a vida das pessoas. Cada medida Simplex que era corretamente executada dobrava-me a energia para pensar em fazer mais.
A política é isso mesmo, a grande oportunidade de usar o nosso saber-fazer e energia para realizar objetivos coletivos e promover "bens públicos" que a atividade privada não pode fornecer. É assim da Junta de Freguesia ao Parlamento Europeu. Por vezes, vemos mais rapidamente o efeito do nosso esforço, outras ele é diferido, mas um dia lá aparece para nos deixar orgulhosas de termos contribuído para ele.
Certo, a política não são apenas rosas, também há espinhos. Quando se acerta, o reconhecimento é raro, mas quando se falha a crítica é dura e não se faz esperar.
Mas no final, o balanço compensa pelo menos para quem escolheu a política para trabalhar e não apenas para se mostrar.
Com certeza que em todos os campos ideológicos há políticos pouco recomendáveis (como em todas as atividades, aliás), mas esses não devem servir para desqualificar a política e quem a leva a sério.
Não sei como numa democracia se pode viver sem políticos, mulheres e homens que a façam com gosto, rigor e o devido empenho. De todos os outros que não querem assumir esse risco, deviam merecer pelo menos o benefício da dúvida. Sobretudo e mais importante, deviam merecer o respeito, o mesmo que devemos ter por todas as outras atividades que concorrem para o bem-estar coletivo. Só com a nossa participação ativa, o nosso voto e a nossa voz, a política será mais parecida com aquilo que todos desejamos que ela seja.
*Eurodeputada do PS