A escolha feita por Marco António Costa abriu uma cratera no processo de decisão sobre o candidato que o PSD há de apresentar em Vila Nova de Gaia.
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Ao decidir ficar no Governo, o secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social permitiu, por um lado, que apetites antigos ganhassem novas vontades, mas, por outro, criou um nó muito difícil de desfazer. A importância de Gaia no contexto da Área Metropolitana do Porto, no contexto da Região Norte e até no contexto nacional reclama a escolha de um candidato com vistas largas, conhecido mas sobretudo reconhecido, com pensamento próprio e força política para se fazer ouvir.
Não é fácil encontrar quem caiba neste fato? Não. Por isso mesmo, Luís Filipe Menezes, presidente da Concelhia gaiense, e Marco António Costa estão obrigados a pensar na essência do problema e a eliminar a turbulência. Quer dizer: estão obrigados a encontrar um candidato à altura das responsabilidades que Gaia tem e deve continuar a ter; estão obrigados a desatar o nó, sob pena de assistirem a um muito provável desmoronamento da obra feita no concelho. O regresso a uma gestão tipo Heitor Carvalheiras, o socialista que manteve o município em formol durante demasiados anos, não é aconselhável.
Acresce que, para o PSD, seria dramático juntar Vila Nova de Gaia ao rol de câmaras que o partido arrisca perder nas próximas eleições autárquicas. Não é um risco negligenciável este de entregar a Autarquia ao PS. A escolha de um candidato fraco aliada à naturalíssima penalização, sobretudo nas freguesias mais urbanas, que resultará da prestação do Governo pode chegar para uma mudança inesperada. É improvável? É. É impossível? Não há impossíveis em política.
Os nomes apontados para suceder a Menezes (alguns já testado em estudos de opinião) não atenuam, longe disso, o risco. Firmino Pereira é um trabalhador nato. É conhecido, mas não é reconhecido. Guilherme Aguiar é apenas um comentador nato. É conhecido, mas não é reconhecido. César Oliveira, presidente da Assembleia Municipal, é um histórico: conhecido, mas não reconhecido. E Manuel Moreira é o "picareta falante" nato. Conhecido, mas igualmente pouco reconhecido.
O embrulho montado em Gaia tem dentro uma bomba-relógio. Convém desarmá-la com jeito, não vá o engenho explodir e gerar ondas de choque de imprevisíveis efeitos.
P.S. Na crónica "O apelo e o desejo de Paulo Rangel", publicada a 4 de janeiro, acusei Paulo Rangel de chegar tarde ao debate sobre as tropelias de que tem sido alvo a Região Norte. Acusei mal. O eurodeputado fez-me chegar um livro com textos publicados em vários jornais na última década: são bastantes aqueles em que faz a defesa do Norte. Pela precipitação, devo a Paulo Rangel um público pedido de desculpas. A ele e aos leitores.