A palavra sustentabilidade entrou no léxico quotidiano, e hoje são muito poucos os que não lhe atribuem importância crucial para o futuro do planeta e das pessoas. Muitas vezes se diz que o aumento da perceção da importância de adotar comportamentos mais responsáveis é garantia para atingir a curto prazo um Mundo sustentável, mas a realidade mostra-se bem diferente.
Corpo do artigo
Por mais efetiva que seja a mudança de atitude enquanto consumidores, o caminho da sustentabilidade não pode ser percorrido a uma velocidade suficientemente útil sem forte mudança nos sistemas produtivos, e esta depende da nossa mudança de atitude enquanto cientistas, técnicos, gestores, políticos, etc.
A via da sustentabilidade da moda será muito difícil de percorrer enquanto esta necessitar de solos extremamente irrigados e desempestados; ou utilizar intensamente matérias-primas de origem fóssil; ou, num cenário de completa globalização das cadeias de valor, obrigar ao transporte de matérias-primas, semiprodutos e produtos acabados por milhas e quilómetros sem conta. E ainda resulta de uma indústria que se desenvolveu conferindo beleza e performance aos produtos através do uso intensivo de água, energia e produtos químicos.
Na verdade, é a mudança de atitude das comunidades científica, industrial e da distribuição que está agora a dar um definitivo impulso para a verdadeira mudança de paradigma. Nunca como hoje estas comunidades estudaram matérias-primas, processos de transformação, formas de conceção de produtos ou das suas cadeias logísticas.
Depois de ser comummente tido como origem de produtos de moda baratos e básicos, Portugal está hoje nas bocas do Mundo por ter indústrias têxtil e do vestuário inovadoras, flexíveis, que produzem qualidade e performance ao mais alto nível, mas sobretudo por já há alguns anos ter abraçado os desafios da sustentabilidade com resultados impressionantes.
Ainda bem que Portugal fez este caminho e que os mercados internacionais o percecionam e reconhecem, mas melhor ainda é o facto de ter sido pioneiro na determinação de adotar os princípios da bioeconomia circular.
Se dúvidas houvesse, seriam desvanecidas ao constatar-se que a maior e mais ambiciosa iniciativa de I&D de sempre no setor está em curso, com o apoio do PRR, sob a batuta do CITEVE, o centro tecnológico do setor, e foca-se exatamente na pista mais desafiante do caminho para a sustentabilidade: "be@t - bioeconomia nos têxteis".
* Diretor-geral do CITEVE