O encontro Ciência 2023 e os oceanos
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Não podemos ter um planeta saudável se os oceanos estiverem doentes, o que infelizmente já é inegável. Há causas de origem terrestre, mas os efeitos acumulam-se a um ritmo preocupante. As alterações climáticas, a acidificação, a poluição e os plásticos, bem como a exploração insustentável dos recursos marinhos - mais do que ameaças aos oceanos, são ameaças ao planeta.
O mar é essencial para a vida na Terra e para a sobrevivência da humanidade. Os oceanos contêm 97% da água do planeta, albergam 80% das formas de vida, absorvem 30% do dióxido de carbono produzido, são a nossa maior fonte de proteína e estima-se que possam fornecer 10% das necessidades energéticas da União Europeia até 2050.
A economia azul, considerada na globalidade, é a sétima maior economia do mundo. Considerada de forma independente, integraria o G7. A OCDE estima que a economia do oceano, que se interliga com vários setores económicos e atividades, incluindo a energia, o turismo, a alimentação, a gestão de resíduos e os transportes, tem potencial para produzir um valor económico na ordem dos três biliões (milhões de milhões) de dólares por ano. Só na Europa, o mar assegura 4,5 milhões de postos de trabalho diretos, uma grande parte dos quais em regiões pouco favorecidas.
Se não cuidarmos dos oceanos, dificilmente conseguiremos cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o Pacto Ecológico Europeu, mitigar as alterações climáticas ou proteger a biodiversidade. A importância da ciência e da investigação sobre os oceanos e temas afins é, por todas estas razões, inegável.
A Universidade de Aveiro, que há décadas dá prioridade às ciências e tecnologia do mar, acolheu em julho o Ciência 2023, o maior evento anual dedicado à ciência em Portugal. O evento seria sempre de destacar, porque a ciência e o conhecimento são um bem público e uma força transformadora do país. Pensar sobre ciência será sempre importante para o nosso presente e futuro.
Mas o Ciência 2023 merece destaque por duas outras razões: foi a primeira edição do evento dedicada a um único tema, neste caso o oceano; e foi a primeira edição realizada fora de Lisboa.
A investigação em Portugal acontece e afeta todo o território. Por isso, descentralizar o encontro nacional de ciência faz sentido. Ao longo dos três dias do evento, mostrou-se em Aveiro o que de bom se faz na investigação sobre os oceanos, um pouco por todo o país.
A escolha do tema do Ciência 2023 revela lucidez e sentido estratégico. Portugal só é pequeno quando não olha para o mar. Há ainda muito a fazer para mudar a atitude predatória da humanidade face ao oceano, mas é importante procurar atingir esse objetivo. Entre os principais protagonistas do Ciência 2023, estiveram muitos dos nossos jovens cientistas. Estávamos a dever-lhes um evento assim.
Vale a pena pensar nisso.