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Completaram-se ontem nove anos sobre os atentados que visaram as Torres Gémeas e o Pentágono, causamdo cerca de três mil mortos. Aparentemente o nono aniversário não seria uma data redonda, propícia a assinalar o evento com celebrações e polémicas, mas alguns anteciparam-se ao ano décimo para reacenderem os conflitos que, verdade seja, nunca cessaram após o 11 de Setembro de 2001.
A contestação do projecto de construir uma mesquita na baixa de Mannathan e a ameaça de um pastor da Florida de queimar o Corão, num auto de sabor medieval. obrigaram o presidente Obama a apelar à "tolerância" e ao respeito pela liberdade de expressão e de religião.
A perturbação emanou igualmente da atitude do líder dos republicanos na Câmara dos Representantes ao colocar no mesmo plano o "projecto" de erguer a mesquita em Nova Iorque, um acto lícito no quadro da liberdade de religião, e a imaginária fogueira alimentada com as páginas do livro sagrado de Maomé, acto radicalmente contrário às liberdades fundamentais. Afinal, os Estados Unidos basearam a "resposta" aos atentados terroristas de 2001 na afirmação da liberdade de religião inscrita na Constituição americana.
A distinção entre actos de violência e manifestações pacíficas da crença religiosa, entre o livre exercício de um culto e actos de terrorismo esteve presente nas palavras de Barack Obama, numa das cerimónias comemorativas do 11 de Setembro: "Podem tentar provocar conflitos entre as nossas crenças, mas, enquanto americanos, não estamos, nem estaremos nunca em guerra com o Islão".
Estes focos de intolerância, em volta do islamismo, significam, que não é fácil por termo ao "ciclo de desconfiança e de discórdia entre a América e o Islão", a que Obama já tinha aludido no famoso discurso de Cairo no ano passado. Apesar da atitude de alguns radicais (conservadores, evangelistas e outros), representantes de diversos cultos religiosos manifestaram-se nos Estados Unidos, em defesa das liberdades e exprimindo solidariedade à comunidade islâmica.
Aparentemente este nono aniversário dos atentados de Nova Iorque e Washington foi uma espécie de ensaio geral do que poderá acontecer em cerimónias e distúrbios no ano décimo de 2011. Para muitos cidadãos americanos é demasiado subtil a distinção entre o fundamentalismo islâmico e o islamismo moderado. No discurso público e mediático encontram maior eco as manifestações dos radicais do que as palavras apaziguadoras dos moderados.
A nove anos de distância o 11 de Setembro continua demasiado vivo, desde logo nas guerras do Afeganistão e do Iraque e no misterioso fantasma de Ben Laden, sempre invocado e sempre ausente, mas também no interior dos próprios Estados Unidos, onde, ao contrário do que sucede com outros tipos de racismo ou de intolerância religiosa e ideológica, a "islamofobia" ganha terreno. As autoridades norte-americana, a começar pelo Presidente, além de apelarem ao respeito pelos grandes princípios constitucionais, procuram evidenciar que são os fundamentalistas, a começar pelos talibãs, quem beneficia com actos do tipo da queima de livros ou de outras manifestações pontuais de intolerância.
Os estudos sobre a sociedade americana apontam para uma radicalização da comunidade islâmica radicada nos Estados Unidos, o que, no dizer de um relatório elaborado por especialistas (citado pela Reuters), mudou de natureza: "A ameaça com que os Estados Unidos se confrontam é diferente daquela que existia há nove anos. Pode dizer-se que os Estados Unidos de hoje pouco diferem da Europa no que respeita à existência de um problema de terrorismo interno, envolvendo muçulmanos imigrantes ou autóctones, além de convertidos ao islamismo".
