O ex-presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, assumiu, pela primeira vez, ter cometido "um erro", ao integrar o Governo de Guterres, na qualidade de ministro-adjunto e da Administração Interna, deixando a meio o mandato que os portuenses lhe tinham entregue.
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Numa entrevista concedida ao programa "Polo Norte", do Porto Canal, bateu com a mão no peito e disse: "A ideia era deixar espaço para quem cá estava, mostrar que as coisas não corriam mal no Porto, e, entretanto, criar em Lisboa, junto do Poder, um espaço para ajudar o Porto, complementar quem estava na liderança do Porto, através de Lisboa. Saiu errado. E eu nunca assumi a humildade de ter chegado ao Porto e dizer: eu errei".
Esta declaração pungente merece um pequenino reparo. Ou dois. Ou mesmo três.
O erro de Fernando Gomes não foi ter ido para a "maléfica" Lisboa. Esse era o seu destino óbvio, depois do trabalho feito na Câmara do Porto. Gomes desejava, muito legitimamente, ser ministro. O erro de Fernando Gomes foi ter regressado ao Porto como se Lisboa tivesse sido apenas e só um epifenómeno na sua vida política. Não foi.
A passagem por Lisboa marcou-o profundamente - não apenas porque foi trucidado por alguns "companheiros" de partido; não apenas porque lhe caiu em cima uma vaga de assaltos a bombas de gasolina (coisa de meninos de coro, quando comparada com a criminalidade violenta que hoje assusta o país de norte a sul); não apenas porque a atriz Lídia Franco foi apanhada na onda do crime, mediatizando-o até ao paroxismo; não apenas por todas estas circunstâncias, mas sobretudo porque, depois delas, Fernando Gomes entendeu que faria no Porto uma espécie de catarse política, para, quem sabe?, mais tarde regressar ao centro do Poder.
Os portuenses não lhe perdoaram a arrogância que esta estratégia continha. Gomes achou que o povo era bondoso, paciente e sabedor das tropelias de que ele havia sido vítima. Por isso o glorificaria de novo. A empatia entre Gomes e o povo (ou melhor: entre o povo e Gomes) terminou no dia em que ele assumiu nova candidatura à Câmara do Porto. Em certo sentido, Gomes fez então o que Passos Coelho está a fazer agora: pediu paciência aos portuenses. Os portuenses perderam a paciência.
É por isso que custa ouvi-lo dizer que escolheu ir para o Governo para, "junto do Poder, ajudar o Porto". Gomes seria no Executivo uma espécie de canivete suíço do Norte? Soa a desculpa, daquelas que não pegam mesmo usando a cola que agarra cientistas ao teto. Não é com atos quixotescos que o Porto e o Norte se impõem. Como, aliás, Fernando Gomes muito bem sabe.
Último reparo: por que volta Fernando Gomes ao tema com as autárquicas na rua?
