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É preferível que Portugal tenha um qualquer Orçamento do que Orçamento nenhum mas, por muito que as agências de rating passem a estar no grande rol de "irritações" de José Sócrates, este não é o Orçamento de que Portugal precisa. A confirmação desta conclusão encontra-se nas páginas e páginas do documento. É evidente que este erra na política económica e acaba por ser o resultado natural de uma má política de combate ao défice. De facto, seja por vontade do primeiro-ministro, ou por engano do ministro das Finanças, o défice deve-se ao facto de, numa altura de crise, a cobrança de impostos, naturalmente, baixar. Assim, a receita para o seu combate acaba por ser o motivo para o seu aumento.
Portugal desperdiçou nesta década a possibilidade de modificar o seu modelo económico, apostar na competitividade, suster o monstro estatal, criar um sistema fiscal concorrencial e fazer as necessárias reformas estruturais. Agora não há milagres e qualquer oposição responsável não pode criar condições para que a esta crise financeira e económica se junte uma outra política.
Resta esperar que o primeiro-ministro depois de festejar se dedique a governar. Portugal não pode continuar com o aumento brutal de dívida pública como aquele que se prevê para o próximo ano; não se pode fiar num aumento de cobrança de IVA bem superior ao crescimento do consumo privado; não deve permanecer estático perante uma despesa corrente primária que se mantém nos mesmos níveis e não baixa; não pode continuar a basear a sua política financeira em receitas extraordinárias e irrepetíveis; e não deve continuar à espera de pseudo-reformas que não saem do papel. É por todas estas razões que apesar das condições políticas de estabilidade não é possível às famosas agências de rating cantar hossanas a um Orçamento de pausa. E atenção que, ao contrário do que parece, quem avisa amigo é.