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1 Foram divulgados ontem os resultados do PISA, o programa internacional que, de três em três anos, avalia o conhecimento dos alunos de 15 anos nos 72 países mais desenvolvidos do Mundo. Os resultados foram razoáveis, em particular na literacia científica, mas também na leitura e na matemática. Em todas as parcelas, e pela primeira vez, os alunos portugueses ficaram acima da média da OCDE. Os sinos, como é habitual num país com escassas razões para festejar, tocaram a rebate, com destaque para os de Pedro Passos Coelho. Ora, se é legítimo que o líder do PSD manifeste preocupação com a reversão de políticas educativas do seu Governo, fica-lhe mal torcer a verdade: ao contrário do que disse, a OCDE não destacou, em particular, a evolução entre 2012 e 2015. Os números não o permitem. Foi entre 2006 e 2009 que o salto foi maior. O que os responsáveis do PISA destacaram, isso sim, é que os alunos portugueses continuaram a evoluir mesmo em anos de crise profunda, revelando, tal como os seus professores, uma grande resiliência. Sobretudo se nos lembrarmos que a maioria das famílias desses alunos empobreceu nesses anos. Que muitos pais e professores ficaram desempregados. E que os professores sofreram, todos eles, cortes nos salários. Tendo tudo isso em conta, é até razoável dizer-se que a educação melhorou, apesar do Governo.
2 Ronaldo deverá ser eleito este ano o melhor jogador do Mundo, porventura em dose dupla, graças ao recente divórcio entre o "France Football" e a FIFA. Para a esmagadora maioria dos portugueses (incluindo aqueles que não levam o futebol demasiado a sério) nem é necessário que cheguem essas distinções. Na memória ainda perduram as lágrimas de Ronaldo por uma final do Euro 2016 que não pôde jogar até ao fim, a sua gana, sofrimento e incentivo aos colegas a partir do banco e, finalmente, a taça orgulhosamente erguida pelo capitão no Estádio de França. Não há nada que apague essas memórias, como não há nada que possa acontecer que diminua o seu impressionante currículo desportivo. Acontece que também não é possível fazer de conta que o futebolista e o cidadão são duas pessoas diferentes. E o que se soube entretanto, no que diz respeito à sua relação com o dinheiro e às suas obrigações fiscais, com o recurso a empresas-fantasma e a paraísos fiscais, afasta-o do campo das pessoas decentes. Interessa pouco para essa avaliação se o esquema que usou para fugir aos impostos vai ou não ser considerado ilegal. Pode ser legal, mas não deixará de ser um esquema e uma fuga. Comportamentos que uma sociedade saudável não deve tolerar a nenhum dos seus membros. Nem mesmo a Ronaldo.
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