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1 Passos Coelho é um estadista. É verdade que já não tem o poder para dirigir o Estado, mas sobram-lhe pelo menos a bandeirinha na lapela e a "carantonha". Sendo um homem que tanto preza a seriedade, percebe-se a irritação com o facto de termos agora um primeiro-ministro "bem-disposto e que gosta de graçolas". Ainda por cima, o que lhe roubou o lugar, subvertendo a tradição, valor muito mais importante do que a vontade da maioria dos portugueses. Passos Coelho reconhece que não consegue pôr uma cara alegre. Não dá. São demasiadas preocupações. E com quem está preocupado o líder do PSD? Segundo as suas próprias palavras, com "quem tem muito", uma vez que o atual Governo se prepara para lhes atacar as poupanças. O mais certo, ainda segundo o lúcido raciocínio de Passos Coelho, é que esta gente (rica mas indefesa), como "não pode estar cá", acabe por sair de Portugal. O resultado será um país em que todos terão "pouquinho". Um país que atrai os pobres e enxota os ricos. Exatamente o contrário do que o nosso estadista procurou fazer enquanto foi primeiro-ministro: por um lado, atraiu com vistos gold os milionários com dinheiro para comprar casas de luxo e garantiu com benefícios fiscais que os europeus abastados viessem para Portugal gastar as suas pensões; por outro, adotou medidas de austeridade purificadoras que geraram desemprego massivo, para depois convidar os desempregados a emigrar. Resumindo, atrair os ricos e enxotar os pobres. Não fossem as eleições e Passos Coelho era bem capaz de ter transformado Portugal num novo Mónaco.
2 António Mexia é um filantropo. O presidente do Conselho de Administração da EDP (aquela empresa que o Estado português vendeu ao Estado chinês) ofereceu a Lisboa (e portanto ao país, que o resto é paisagem) o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. Segundo as informações que foram divulgadas, este exercício de filantropia representou um investimento de 19 milhões de euros. A que se somam dois milhões de euros por ano para financiar a programação do MAAT e as suas prometidas 20 exposições por ano. Perante oferta tão desinteressada, o país político não podia faltar à inauguração. E não faltou. Tudo gente que não se impressiona com outro tipo de detalhes. Detalhes como o facto de a EDP se preparar para amealhar quase mil milhões de euros de lucros este ano. Detalhes como o facto de boa parte desse lucro ser suportado pelos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (palavrões que representam uma renda garantida para a EDP, na ordem das centenas de milhões de euros anuais, a pagar pelos contribuintes). Detalhes como o facto de os portugueses pagarem a eletricidade mais cara da Europa.
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