O debate sobre o estado da nação é um daqueles momentos que, apesar de fazer parte da liturgia política, não costuma ficar na memória. Os governos fazem o seu balanço, encontrando sempre razões para prever tempos melhores, enquanto as oposições contrapõem, prevendo sempre tempos mais ou menos sombrios. E depois vão todos de férias (com a exceção dos ministros da Administração Interna, que ficam para apagar os fogos), e nós com eles (os que podem).
Corpo do artigo
É pouco provável que o debate de hoje no Parlamento nos fique na memória. Mas também é verdade que a temperatura económica, social e política está muito longe de um ano normal. Depois de dois anos de pandemia, sobrou uma crise, que já fazia soar os alarmes no final do ano passado. Uma crise que acelerou com a invasão da Ucrânia pela Rússia, e que pode acabar numa recessão, sobretudo pelos seus efeitos na fatura da energia, que contamina tudo o resto.
Essa é, provavelmente, a sombra que mais preocupa os cidadãos da nação que hoje se debate. Porque é a capacidade de pagar as contas do supermercado que já está em causa. E porque pode estar em causa até o seu emprego, se e quando a economia começar a afundar (o crescimento deste ano, em Portugal, chega por via do turismo, não tem fôlego para se manter). Mas há ainda outras questões, algumas de substância, outras de novela, para temperar o debate.
Entre as de substância, a crise da falta de médicos, que fechou urgências durante um mês, abalou a confiança no Serviço Nacional de Saúde, e transformou a ministra mais popular do Governo (Marta Temido) num político tão detestado quanto os outros. Ou a crise dos incêndios, não tanto pelas dificuldades do combate, mas por nos mostrar o tanto que ficou por fazer, apesar das promessas que seguiram às tragédias de 2017. E há depois a anedota do novo aeroporto de Lisboa e do ministro que tem agora menos poder que um subsecretário de Estado (se os houvesse). Está aberta a sessão.
*Diretor-adjunto