<p>Adriano Moreira chama a atenção para o facto de termos um Estado exíguo que já não dispõe dos recursos necessários para sustentar as funções essenciais à própria soberania. Essa "exiguidade" reflecte-se no encerramento de escolas e esquadras, de centros de saúde e de maternidades, de notários, de tribunais e de repartições e de serviços públicos no interior do país ou, mais precisamente, fora das áreas metropolitanas e dos grandes centros urbanos.</p>
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O Estado não se tornou exíguo, note-se, apenas por falta de recursos, ou devido à sua errada alocação. Nos últimos 35 anos convencemo-nos, e fomos convencidos através de promessas várias, que iríamos ter melhor saúde, melhor educação, melhor cultura, melhor habitação, enfim, uma cada vez melhor qualidade de vida, a título gratuito. Ao mesmo tempo, acreditámos que teríamos menos horas de trabalho, maiores períodos de férias, emprego e rendimento assegurados e até maior segurança pessoal. O Estado alargaria as suas prestações a favor do cidadão numa extensão a perder de vista, e todos ficariam a ganhar, passando a viver melhor sem sacrifícios ou retrocessos. Ora, este nível de exigência dos cidadãos não tem tido equivalente no crescimento da receita do Estado, já que a realidade dos factos é adversa, e não permite continuar a viver nesta ilusão. Cada vez somos menos a contribuir para a receita global, cada vez somos mais os velhos e menos os novos, cada vez somos mais consumistas, e cada vez é maior o fosso que separa as expectativas que temos do que é viável esperar por parte de um Estado que tem de sustentar uma capital que gasta à tripa forra, e que teve que superar décadas de atraso de desenvolvimento em relação aos restantes países da Europa.
Naturalmente, isto é difícil de explicar a uma população que se habituou a viver em casa farta e mal gerida, sendo esta porventura uma das razões que não permite à população de Valença conformar-se com o encerramento do seu serviço de atendimento permanente, certo como é que a clientela não parecia justificar o serviço, e que a concentração de recursos de saúde com qualidade e transporte assegurado será quase sempre melhor remédio do que a dispersão de cuidados médicos. Haverá outras razões a justificar a revolta da população neste caso - já que o serviço de atendimento em causa dispunha de meios técnicos de qualidade enquanto o centro de saúde de dia existente não oferece grande confiança - mas ela é sinal de um sentimento que aflige as populações e que vai muito para além da preocupação com a prestação de cuidados médicos, até porque a perda de um serviço desta natureza representa, também, a perda de emprego qualificado e a deserção da classe média que, nas vilas e cidades da província, é composta esmagadoramente por quem executa estas funções.
Não concordando com o aproveitamento desta querela como motivo para reclamar contra as medidas "economicistas" do Governo quando se sabe que a sua racionalidade não se fundamenta apenas numa lógica financeira, e lamentando o desfraldar da bandeira espanhola, que constitui um acto gratuito e antipatriótico, não deixo de me interrogar se a restrição de benefícios e a contenção por parte do Estado e os custos associados não devem ser mais equitativamente distribuídos, de forma a atingir também muitos dos serviços do Estado que se concentram, sem qualquer razão, em Lisboa, obrigando à sua descentralização e dispersão por razões de equidade e de coesão territorial, mas também por imperativos de soberania nacional.