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O Governo deveria escutar com atenção o Sr. Diamantino Jesus Simão que, na quarta-feira, conversou com a ministra do Ambiente, quando esta visitou a região de Arganil. A governante disse-lhe para contactar a autarquia para preencher os documentos a fim de obter apoios governamentais. Este homem viúvo, 92 de anos, respondeu-lhe que estava à espera do filho que vive em Lisboa para o orientar.
Quando o executivo lançou o Plano de Intervenção para a Floresta, que substitui o Plano Nacional Integrado de Gestão de Fogos Florestais, deveria ter pensado em mecanismos que tornassem simples a operacionalização de medidas que visam ajudar aqueles que foram mais afetados pelos incêndios, ou seja, uma população envelhecida, sozinha, pouco escolarizada e demasiado sofrida para perceber que ajudas poderá receber. Um Estado Social só consegue cumprir a sua função se agir junto de quem mais necessita. No caso dos incêndios, o Estado não deveria apenas disponibilizar apoios, mas, acima de tudo, meios que fossem ao encontro das vítimas dos fogos. Um idoso, sozinho e carregado de dor, é incapaz de preencher documentos para pedir o que quer que seja. O Governo deveria ter isso em conta.
Em situação de catástrofe, não precisamos de políticos no terreno das tragédias. Qualquer político que avance para esses territórios não está a ajudar. Está a estorvar. Pior: está a desrespeitar as populações e todos aqueles que ali estão para auxiliar quem mais precisa. No entanto, essa distância dos lugares onde tudo decorre não implica afastamento daquilo que acontece. Pelo contrário. No exercício das suas funções, os governantes devem ser interventivos, devem transmitir confiança e apoio às populações em aflição e a quem as socorre.
Por estes dias, devido à pressão mediática, vamos ver governantes em deslocação ao país real. Ontem, a ministra da Administração Interna visitou um quartel de bombeiros da Lousã para anunciar pontuais aumentos salariais. Percebe-se o gesto político de gestão de controlo de danos mediáticos. Todavia, não é disso que mais precisamos. Aquilo que mais faz falta ao país são políticos que não falhem, quando as tragédias acontecem e que sejam capazes de colocar em andamento políticas públicas capazes de ajudar as populações a levantarem-se do chão.
O país não pode viver reiteradamente de declarações inflamadas, de vídeos encenados para o Tik-Tok, nem de promessas feitas à pressa nos lugares da dor. Também não precisamos de inventar novos planos. As vítimas das tragédias necessitam de ajudas que cheguem através de mecanismos simples e eficazes que façam o Estado estar presente onde importa: na vida concreta de quem sofre.