Rúben Amorim é o Benjamin Button do futebol nacional.
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Começou como treinador veterano, a protagonizar uma transferência milionária e a auferir um salário de três milhões, num dos três grandes, e agora vai rejuvenescendo de ano para ano, até dar os últimos passos como adjunto dos juniores do Lusitano de Évora, em regime de voluntariado. Estou a brincar, acredito de facto que Rúben possa ter uma brilhante carreira, até porque tem uma característica rara nos treinadores de futebol: uma sinceridade desarmante. O que perde em mind games, ganha em games a sério (esta crónica foi escrita antes de terminar o Sporting-Desportivo das Aves, estou confiante de que a sorte de principiante de Amorim é mais forte do que a sina do SCP).
Nos últimos meses, os únicos em que acompanhei a carreira de Amorim como "mister", já que não seguia atentamente os jogos do Casa Pia em 2018, Rúben tem surpreendido tudo e todos (ou pelo menos aqueles que estão habituados a ouvir sempre a mesma lengalenga da malta da bola) com as coisas que diz...
Depois de conquistar o seu primeiro título como treinador profissional (OK, era a Taça da Liga mas conta na mesma), disse na conferência de Imprensa: "Tive a estrelinha. Podia não ganhar este jogo, podia não ter ganho no Dragão ou em Alvalade". Há qualquer coisa em Rúben, meio naive, que não engana: não se trata daquela sonsice tantas vezes detetada em companheiros de classe. É mesmo franqueza!
A mesma que apresentou quando foi apresentado. Confrontado com o facto de ser o terceiro treinador mais caro do futebol mundial, Rúben confidenciou que quando o Sporting de Braga fixou a cláusula em 10 milhões de euros, se riu muito, porque achava que ninguém ia gastar dinheiro com ele.
Todos riram quando ouviram isto. Ou quase todos. Frederico Varandas estava muito sério. Devia estar a pensar noutra coisa. No crédito pessoal que vai pedir à Cofidis, ou assim. Ouvir o treinador recém-contratado dizer uma coisa daquelas deve custar tanto como quando compramos um casaco caríssimo e depois uma amiga nos diz que encontrou igual nos saldos por metade do preço.
É de facto estranho que Rúben, depois de meia dúzia de jogos na Primeira Liga, se torne no treinador mais caro de sempre, num país que deu ao Mundo José Mourinho, André Villas-Boas ou Jorge Jesus. A verdade é que os clubes não estão habituados a pagar por treinadores. É uma profissão com tanta rotatividade que costuma haver sempre um técnico razoável no desemprego... Ou então o José Peseiro, quando as prateleiras estão vazias...
Enquanto isto, um choroso António Salvador apresentou Custódio como novo técnico do Sporting de Braga, fazendo chorar a Associação Nacional de Treinadores de Futebol, que viu sair o "amador" Rúben Amorim, que apenas tinha o Nível 1 da UEFA, para ver entrar um tipo que só tem o Nível 1. Temo que o plano do Braga para o próximo ano seja pôr Melinha, a mais famosa adepta do clube, a comandar as tropas.
Rúben Amorim não foi o único espantado com o seu próprio preço. Todas as pessoas sensatas, que sabem como gerir dinheiro, se mostraram espantadas. Mas também Bruno de Carvalho manifestou surpresa, acusando Varandas de "gestão danosa", "desespero total" e "espiral de loucura". Tudo conceitos que Bruno, aparentemente, domina. Luís Figo também veio dizer que achava uma loucura pagar esse valor por um treinador. Ao menos se fosse por um pequeno-almoço com José Sócrates...
20 VALORES
Para a Linha Saúde 24, que mandou uma professora vinda de uma das zonas afetadas por Covid-19, em Itália, trabalhar como se nada fosse. E lá foi ela, porque o dever chama, e a turma não podia ficar nem um dia sem Físico-Química, não fosse escapar-lhes a tabela periódica. Agora ficam em "isolamento social" até 13 de março e perdem também as aulas de Português, Matemática e História. Normalmente os portugueses até são fãs de se baldar ao emprego. Mas quando ir trabalhar equivale a um desporto radical, "será que os infeto, será que não?", acaba-se o absentismo.
*HUMORISTA