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François Hollande encheu o peito para falar da Europa e do espírito europeu. E depois de renovar a sua fé no projeto da União, avançou querer um governo para a Zona Euro, que Manuel Valls esclareceu dever ser integrado pela França, Alemanha, Bélgica, Itália, Luxemburgo e Holanda apenas, com direito a orçamento e Parlamento próprios.
O pretexto foi encontrado na evocação de Jacques Delors. Mas na prática, François Hollande e Manuel Valls limitaram-se a atraiçoar-lhe o pensamento e a memória.
Jacques Delors inspirou uma Europa inclusiva e solidária, feita de respeito entre as partes, apesar de diferenças seculares expressas em origens, línguas, etnias, interesses estratégicos e conflitos que marcaram a sua história.
Em contrapartida, os socialistas François Hollande e Manuel Valls significam uma liderança de vistas curtas, que em cima do seu chauvinismo e falta de dimensão de Estado, não percebem o absurdo de exclusão "governativa" de todos os demais países da Zona Euro, que relegariam para uma espécie de dimensão regional que gravitaria à volta daqueles que, em muitos casos, até estão longe de mostrar melhor exemplo.
Portugal é uma nação antiga, com fronteiras definidas no tratado de Alcanices desde 1297. Não nasceu com a adesão à União Europeia, muito menos com a criação da Zona Euro.
Portugal fez a globalização, descobrindo mundos e traçando rotas novas.
O português é a terceira língua europeia mais falada no planeta, apenas superado pelo inglês e o espanhol, mas à frente do francês. É também a língua mais falada do hemisfério sul, a quinta mais falada no Mundo, uma das línguas oficiais do Parlamento Europeu e de países situados em praticamente todos os continentes.
A própria França é hoje feita de muitos portugueses e lusodescendentes. Até por isso, o absurdo da vontade da ministra da Investigação e Ensino Superior, Geneviève Fioraso, de acabar com o ensino do português no país, dizendo que "ter uma disciplina rara em todas as universidades se calhar não é útil".
Napoleão Bonaparte, que teve imenso poder e indiscutível carisma, afirmou um império e vergou nações pela força, tentou submeter Portugal à sorte da França e não foi capaz. Os exércitos de Junot, Soult e Massena foram sucessivamente combatidos e expulsos à canhonada, em cada uma das três invasões tentadas no século XIX, perseguidos pelas forças anglo-portuguesas.
Não serão duas figuras cinzentas da atual história europeia, incapazes de seguirem os passos das grandes personalidades que a França já legou ao Mundo, que conseguirão agora melhor, a propósito de uma moeda que nem sequer é só sua. É também nossa, por direito próprio.