As universidades do Porto (UP), do Minho (UM) e de Trás-os-Montes e Alto Douto (UTAD) estão à beira de assinar um protocolo que, para usar a expressão de um dos intervenientes no processo, cria, ainda que de forma oficiosa, uma espécie de Universidade do Norte (ver edição do JN de 18 de março). A notícia só peca por tardia. Basta perceber as mais-valias e as poupanças resultantes da fusão da Universidade Técnica com a Universidade Clássica de Lisboa (criou-se a quarta maior universidade ibérica, com 48 mil alunos, 3 mil docentes e investigadores e um orçamento de 300 milhões de euros), para se perceber que não há outro caminho capaz de apaziguar os problemas de cada uma delas e exponenciar as potencialidades de todas.
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Cumpre apresentar aqui os parabéns aos três reitores em causa, por terem sabido dar tão importante passo. E cumpre assinalar o papel que teve neste processo o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, Emídio Gomes, decisivo nas pontes que estabeleceu entre os responsáveis das três grandes academias universitárias do Norte e nos contributos dados para a definição da estratégia.
O movimento de reorganização dos sistemas universitários é, de resto, universal. O objetivo é claro: ganhar massa crítica para poder aumentar a capacidade de resposta num mundo cada vez mais competitivo e em constante aceleração. Brasil, China e Índia têm feito enormes investimentos nos seus sistemas universitários, justamente para ganharem escala, capacidade de atração dos melhores "cérebros" e consequente aumento da capacidade científica. Pequenas, fragmentadas e frágeis universidades morrerão neste trajeto, se nada fizerem para alterar os seus projetos.
Sucede que, nos casos da UP, UM e UTAD, há um fator suplementar que aconselha a juntar forças: o território. A responsabilidade das universidades está muito para lá da mera formação de estudantes. Delas se espera e se exige que estabeleçam laços fortes e consequentes com o tecido económico e social em que se inserem. Chega lembrar que a Região Norte tem, entre outros, elevados níveis de desemprego, de pobreza, de emigração, de desertificação, de despovoamento, de envelhecimento, de falências e de pequenas e inviáveis empresas, para todos percebermos o papel fulcral que as universidades têm na produção de conhecimento e de conhecedores que ajudem a combater tamanhas maleitas.
Ora, para isso é necessário que ninguém se atropele, que não se dupliquem cursos, que se tenha a coragem de focar as academias naquilo que melhor elas sabem fazer (estou, por exemplo, entre os que sempre consideraram um absurdo criar na UTAD uma Escola de Saúde). Com isto preserva-se a identidade de cada academia, ao mesmo tempo que se avança nas sinergias capazes de responderem à procura que chega da sociedade e da economia.
Para lá das candidaturas conjuntas aos fundos comunitários e de processos comuns de internacionalização, é isto que se espera das três universidades do Norte: que sejam capazes de se organizar para ajudarem a região através de eficazes lógicas de cooperação. Se o conseguirem, terão prestado um relevantíssimo serviço ao Norte. E servirão de exemplo aos mais céticos.