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1. Jorge Valdano, o homem para quem "o futebol é a coisa mais importante de entre as coisas menos importantes", foi, ontem, o cicerone de José Mourinho, na primeira conferência de Imprensa que o melhor treinador de futebol do Mundo (a meu ver) deu nas instalações do Real Madrid, o seu novo clube. A conversa decorreu como se previa: Mourinho respondeu a tudo na dose certa - com diplomacia, quando ela se impunha; com mestria, quando ela era fundamental; e com tiques de arrogância, quando a mostarda lhe tocou no nariz.
Sentado ao lado de quem, como Valdano, entende que "jogar com uma equipa que defende é como fazer amor com uma árvore", Mourinho mostrou ao que vem, quando um dos jornalistas o avisou: no Santiago Bernabéu não se clama apenas por vitórias, clama-se por futebol espectáculo. Resposta do português: ele venceu as três finais europeias em que participou (uma Taça UEFA e duas ligas dos Campeões) com oito golos marcados e dois sofridos.
Por essa altura, Valdano deve ter recordado o que escreveu sobre Manuel Pellegrini, antecessor de Mourinho: "Às vezes, a excelência deve sacrificar-se em benefício da rentabilidade". É que foi justamente para isso que o Real Madrid contratou o treinador português.
Esse jogo entre a excelência, que o Real tem, e a rentabilidade, que o Real não tem, custará ao clube da capital espanhola 28 mil euros por dia - maquia que Mourinho cobrará. É muito? Numa altura em que os espanhóis vivem, tal como nós, mergulhados numa profunda crise económica e financeira, pode parecer um escândalo entregar tantos euros a um só homem e num só dia. Prefiro ver a coisa às avessas, isto é, pelo lado do sucesso alcançado e do mérito reconhecido.
José Mourinho não nasceu em berço de ouro, tal como a boa maioria dos portugueses. Teve de fazer pela vida, tal como a boa maioria dos portugueses. Estudou, trabalhou, arriscou e venceu, como uma pequena parte dos portugueses. Hoje é um "emigrante" de sucesso. Amado ou odiado, há nele algo de inescapável: o exemplo de quem, parafraseando Jorge Valdano, sabe dosear a excelência com a rentabilidade, o suor com a inspiração. Não é também disso que Portugal precisa?
2. Por falar em bons exemplos... O Parlamento grego aprovou a redução em 2/3 (de 1034 para 355) do número de municípios. Com isso o país aforrará 1185 milhões de euros por ano. A reforma administrativa implica que os concelhos passem a ter um máximo de 10 mil habitantes, de modo a satisfazer melhor as necessidades de cada um.