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No auge da sua juventude, Teun Toebes foi viver para um lar de idosos em Utrecht, nos Países Baixos. Com 21 anos, o estudante de Enfermagem neerlandês, olhar ternurento debaixo dos grandes óculos quadrados, sorriso vasto e cabelo desalinhado, quis provar ao Mundo o poder que a empatia tem na qualidade de vida das pessoas com demência, quebrando estigmas e mitos relacionados com o envelhecimento.
A poderosa experiência social tornou-se a bandeira que defende há vários anos e que já inspirou três livros - “The housemates” está no topo de vendas do seu país e foi traduzido para inglês -, um documentário, conferências e uma organização sem fins lucrativos. No filme independente, o enfermeiro, agora com 25 anos, e o realizador Jonathan de Jong mostram a realidade que viveram ao longo de três anos, em 11 países de quatro continentes, e na qual mergulharam para encontrar respostas para o futuro.
“Human forever” recebeu dezenas de distinções em geografias tão diversas como Espanha, Índia, Eslováquia ou Japão. Acima de tudo, comprovaram a inatacável evidência daquilo que pode parecer só mais um cliché: o afeto e a proximidade são, indubitavelmente, armas eficazes para combater a solidão e o desnorte de uma condição que afeta 55 milhões pessoas em todo o Mundo, número que a Organização Mundial de Saúde estima que dispare para 139 milhões em 2050.
Num país tão envelhecido como o nosso, o exemplo de Teun Toebes devia servir de reflexão. Como é que tratamos os nossos idosos? Ouvimo-los? Somos críticos o suficiente com as políticas de saúde e as respostas sociais a eles destinadas? O que fazemos para melhorar a qualidade de vida desta franja da população? Debatemos o assunto de forma persistente e sustentada? Não seremos, todos nós, responsáveis pela exclusão das pessoas idosas e/ou doentes?
O tema pode não ser sexy que chegue para tornar-se mediático, mas com cerca de 25% da população acima dos 65 anos, devia mesmo preocupar-nos. Tal como nos lembra o ativista neerlandês, que soma milhares de seguidores nas redes sociais, muitas vezes tratamos os idosos como se tivessem deixado de ser seres humanos. Condenamo-los a uma morte social prematura sem pensar que são o espelho de um futuro que também chegará para nós.