"Ver para crer, como S. Tomé!" é uma expressão a que recorre quem duvida de alguma ocorrência que lhe parece de todo inverosímil. Se no caso que deu origem ao dito (a ressurreição de Cristo) se aceita a dificuldade do apóstolo em acreditar no milagre, a postura de desconfiança perante tudo o que é novo, que não se experimentou ou viu a funcionar, é um obstáculo à inovação e à mudança. Normalmente, anda associada a baixos níveis educacionais ou de informação mas pode traduzir cepticismo e cansaço perante sucessivas alterações, sempre anunciadas e sem efeito visível.
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Portugal tem um baixíssimo nível de eficácia e eficiência energética. Com a energia que consumimos, poderíamos ter níveis de conforto superiores e, para mantermos o actual padrão de bem-estar, poderíamos consumir bastante menos energia. Num país tão dependente do exterior no fornecimento das fontes de energia, atacar esta irracionalidade é uma prioridade indesmentível. Ao nível do discurso, o diagnóstico está feito há já muito tempo. Os comportamentos, porém, pouco se alteraram muito por culpa da impopularidade que algumas medidas (como a subida dos preços da energia) acarretariam.
Uma forma de tentar induzir a mudança é criar as condições para que a experimentação ocorra. Andou, por isso, bem o Governo quando decidiu distribuir vales, que dão acesso gratuito a lâmpadas de baixo consumo, pelos agregados familiares de mais baixos rendimentos. Talvez o impacto não se note muito na conta. Mas esse efeito, conjugado com a duração acrescida das lâmpadas, convencerá alguns.
Uma outra via passa por tentar mobilizar os mais jovens, já hoje consumidores (embora não pagadores) e futuros clientes. Sobretudo, pelo papel que podem ter na sensibilização das suas famílias: ao fim e ao cabo, está em causa contribuirmos para que herdem um mundo menos mau do que aquele a que a perpetuação dos actuais comportamentos conduziria. Também aí andou bem o Governo, bem como o conjunto de empresas que aderiram à campanha.
Se na renovação dos estabelecimentos escolares houver a preocupação de construir edifícios energeticamente eficientes, bem isolados, com adequada exposição solar, recorrendo a tecnologias de baixo consumo e alta eficácia, dar-se-á mais um passo. Este é um excelente programa em que os benefícios ocorrem não apenas no aproveitamento escolar (vários estudos mostram uma correlação positiva entre a melhoria das condições de trabalho nas escolas e o desempenho académico) como no efeito demonstração sobre professores, funcionários e alunos (comparando, por exemplo, consumos antes e depois das obras).
A generalização do programa à renovação das instalações da Administração Pública seria, por isso, um bom investimento a inscrever no Orçamento de 2009. Como o feito nas escolas, teria um efeito pedagógico sobre funcionários e utentes. Melhorava as condições de trabalho. Teria uma rentabilidade significativa em termos de diminuição da factura energética suportada pelo Estado. Produziria um efeito multiplicador sobre um grande número de pequenas e médias empresas, desde as de construção até às de fabricação de equipamentos, dinamizando a economia. E, por fim, poria o Estado a dar o exemplo, pela positiva e não pela negativa, como tantas vezes acontece. É pedir de mais?