O facilitismo não é o caminho
Corpo do artigo
A primeira fase de colocações no Ensino Superior ficou abaixo dos 50 mil estudantes, o número mais baixo desde 2018. Muitos apontam o dedo ao modelo de acesso, defendendo que menos exames resolveriam o problema. Esse argumento é um populismo facilitista: menos exames significaria apenas mais inflação de notas, menos igualdade no processo e uma desvalorização da exigência académica. A inflação de classificações no Ensino Secundário, sobretudo entre alunos do ensino privado face aos do público, continua a gerar injustiças e falta de equidade no acesso. Os exames nacionais são fundamentais não só para aferir conhecimentos, mas também como última garantia de justiça no acesso ao Ensino Superior.
Portugal vive hoje uma crise motivada sobretudo pelos custos incomportáveis de alojamento e pelas crescentes desigualdades sociais. Estudar fora de casa tornou-se um luxo. Em Lisboa, um quarto ultrapassa facilmente os 500 euros; no Porto ronda os 400. No interior, a situação agrava-se com a fragmentação do sistema, que dispersa recursos e compromete o desenvolvimento regional.
O modelo de acesso, criado por um governo PS e que deverá ser mantido pelo atual governo da AD, garante estabilidade e transparência. O futuro do Ensino Superior depende de soluções estruturais para os custos de habitação, das condições de frequência e da capacidade de garantir que estudar não seja um privilégio, mas um direito acessível a todos.