A atual guerra entre russos e ucranianos vai terminar com um acordo que implicará perdas territoriais por parte do país invadido? Neste momento, o pior cenário aponta para a conquista em definitivo de toda a região de Donbass, das cidades portuárias a Sul, com a eventual exceção de Odessa, e ainda para um reconhecimento pela própria Ucrânia da anexação da Crimeia enquanto território russo. Nada de novo naquela região. Se um futuro acordo de paz incluir algumas daquelas alterações fronteiriças, estaremos perante algo semelhante ao que sucedeu à Finlândia há cerca de 80 anos.
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O Acordo de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua acabou por ser a base para relações soviético-finlandesas de 1948 a 1992. Os soviéticos tentaram impedir as potências ocidentais de atacar a URSS através do território finlandês e os finlandeses, por seu lado, procuraram aumentar a independência política do país em relação a Moscovo. Uma democracia liberal de tipo ocidental sobreviveria, deste modo, lado a lado com um império socialista.
A finlandização da Ucrânia não é de todo improvável. A Finlândia teve de ceder cerca de 10% do seu território como forma de compensar a URSS pelos danos decorrentes da II Guerra, em que os dois países estiveram de lados opostos da barricada. A partir desse ponto mais "incómodo" da sua história, a Finlândia construiu um Estado próspero de bem-estar social. No entanto, a dependência total do gás natural russo é uma fraqueza.
A experiência neste diálogo com o Kremlin pode, aliás, ser importante na moldagem de um futuro acordo de paz. Sauli Niinisto, presidente finlandês, vai falar telefonicamente na sexta-feira com Vladimir Putin, para abordar o conflito na Ucrânia. Volodymyr Zelensky já admite até abdicar de uma adesão à NATO, finlandizando o seu discurso de forma progressiva.
*Editor-executivo-adjunto