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O filósofo é Daniel Innerarity, filósofo e escritor basco, considerado pelo "Nouvel Observateur" um dos 20 pensadores mais influentes do século XX.
E o cozinheiro Andoni Luis Aduriz o renomado chef do restaurante Mugaritz em Errenteria, no País Basco.
A história contou-ma Innerarity na última edição do Mateus Doc, programa em boa hora organizado pelo Instituto Internacional da Casa de Mateus em Vila Real, dirigido a investigadores de todas as áreas científicas, procurando promover o diálogo interdisciplinar.
Dizia-me Innerarity que Andoni o convidava a entrar, sempre que passava pelo seu Mugaritz e que sempre lhe respondia não poder aceitar tendo em conta o preço avantajado do menu.
Andoni não se impressionou e retorquiu que a forma de evitar esse impedimento seria passar a almoçar com ele... na cozinha!
Quem quiser perceber a delícia da conversa e dos cozinhados, compre e leia o livro "Cocinar, comer e convivir" feito, a quatro mãos, de pequenos e poderosos textos sobre esse "animal cocinero" de que fala Marcel Mauss, à mistura com receitas cinematográficas.
A comida como símbolo, o alimento e o veneno (uma questão de confiança), jogar com a comida, comer como analfabetos, comer na sociedade de risco, pequena antropologia da anorexia, pequena antropologia da obesidade, comer o mundo (ensaio de gastropolítica), a gastronomia como uma das belas artes são alguns dos títulos que fazem crescer água na boca.
O capítulo que trata do global/local, abrangendo o território (entre a realidade e a nostalgia), o comer entre as culturas e os desafios da sustentabilidade, foi, por sua vez, o tema do encontro que nos reuniu em Mateus.
E como Innerarity, nas conversas com Andoni Aduriz, o grupo que se juntou no velho morgadio discutiu, cozinhou e depurou ideias fortes sobre gastronomia e identidade regional, identidade regional e competitividade global, conhecimento e consolidação da competitividade regional, e, sobretudo, de que camadas é feito o ecossistema da valorização económica da gastronomia no contexto global.
E, de repente, ficou claro para os ex-ministros, reitores, foodies, marketeers, chefs e jornalistas presentes como "o comer" pode ser o ato fundador de um desenvolvimento identitário, equilibrado, sustentável, criativo, tecnológico e científico sem deixar de ser genuíno.
Refrescante, saboroso e inspirador, segundo Mateus!
ANALISTA FINANCEIRA