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Por mais cautelas que haja relativamente ao futuro da Síria, é impossível não saudar efusivamente o fim do reino de terror que a dinastia Al-Assad manteve ao longo de 53 anos, que se agravou desde a guerra civil provocada pela repressão bárbara e destrutiva das ondas de choque das “primaveras árabes”.
Quase metade da Síria chegou a estar ocupada pelo Estado islâmico, que se expandiu de forma assustadora, até que a Federação Russa decidiu em 2015 apoiar em força Bashar al-Assad, aproveitando ao mesmo tempo para fortalecer a sua posição e influência na região.
Entretanto, a repressão na Síria continuava de forma bárbara e as prisões são disso o testemunho mais macabro. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, terão nelas morrido mais de cem mil pessoas, 30 mil das quais na prisão da Saidnaya entre 2011 e 2018, considerada pela Amnistia Internacional como “um lugar de extermínio”.
Bashar al-Assad não hesitou em ultrapassar a mais vermelha de todas as linhas do direito internacional, ao utilizar repetidas vezes a partir de 2013 armas químicas contra o seu povo, de que Goutha é um exemplo do horror pela utilização de gás sarin, um composto inodoro e incolor que mata indiscriminadamente, 20 vezes mais mortífero que o cianeto. E mesmo assim, a Síria, poucos anos mais tarde, estava quase em vias de normalização, com a reintegração na Liga Árabe em 2023 e a reabertura de embaixadas em Damasco.
Mas a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente enfraqueceu os aliados da Síria, particularmente a Rússia, o Irão e o Hezbollah, criando as condições para que Abu al-Jolani e o seu movimento Hayat Tahrir al-Sham’s avançasse até Damasco sem oposição, tendo Assad fugido para o exílio na Rússia.
Para muitos observadores, a dúvida coloca-se agora na evolução pacífica e democrática da Síria e na capacidade de Al-Jolani para unificar o país, dado o seu passado ligado a movimentos terroristas e a uma versão mais radical do islamismo.
Para já, o povo sírio rejubila de alegria por se ter visto livre de um pesadelo aterrador. Milhares de sírios, que foram obrigados a fugir para os países vizinhos e para a Europa por causa da guerra civil, estão agora a regressar a suas casas, esperançados numa vida normal, com paz, unidade e democracia, longe da repressão e da arbitrariedade sem escrúpulos que conheceram e que destruiu o país. Vamos ver...…