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Os Países Baixos vão interditar os telemóveis dentro das salas de aulas a partir do próximo ano, juntando-se a um grupo, ainda restrito, de países que decidiram banir esses equipamentos para favorecer a concentração dos alunos. Por cá, o BE propôs a limitação de tecnologias nos recreios à boleia de uma petição que já conta com mais de 18 mil assinaturas. Há evidências de que o uso excessivo dos smartphones impacta negativamente o rendimento escolar e até a saúde mental, mas será a proibição o melhor caminho?
A omnipresença das tecnologias nas nossas vidas tornou-se quase normativa, de tal forma que já está descrito, e nomeado, o medo patológico de não ter acesso a telemóveis ou dispositivos ligados a internet: nomofobia (combinação das palavras inglesas “no mobile” e “fobia”). A privação traduz-se em sintomas comuns a outras dependências: agitação, taquicardia, dificuldade de concentração e pensamentos obsessivos que se traduzam na constante verificação do telemóvel. Há estudos que demonstram que a utilização de telemóveis nas aulas prejudica os resultados dos testes e a retenção da aprendizagem a longo prazo. Uma pesquisa recente (2022), realizada em Espanha, parecia concluir que banir os dispositivos conduz a melhores resultados académicos. Porém, numa leitura atenta, percebe-se que os alunos foram autorizados a utilizar os telemóveis nas escolas como uma ferramenta de aprendizagem para fins educativos. E esse fator pode ter sido determinante no incremento do desempenho.
Que o uso excessivo da tecnologia é um problema parece consensual. E não só nos jovens. Um estudo de 2018 da plataforma Udemy mostrou que os millennials (pais de muitas crianças em idade escolar) verificavam o telemóvel duas horas por dia para atividades pessoais durante o horário de trabalho. E em casa acontece o mesmo. Pais e filhos estão frequentemente alheados, uns e outros fechados num mundo que se resume ao écran do telemóvel. Atirar a responsabilidade de impor limites ao uso da tecnologia para a escola é tentador. Todavia, além da evidente questão da eficácia - o fruto proibido será sempre o mais apetecido -, banir os telemóveis da escola talvez seja perder uma oportunidade de ensinar os jovens a ter uma relação mais saudável com a tecnologia.