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Joga-se, nestes dias, o futuro da guerra na Ucrânia. Hoje mesmo deve realizar-se uma reunião das chefias militares dos países cujos líderes participaram na cimeira internacional, de 15 de março passado, convocada pelo Reino Unido e pela França. Cimeira que fez todo o sentido quando se considera a resposta de Putin à proposta de cessar-fogo de Trump. Por um lado, porque fez sobre a Rússia a pressão que os EUA não fizeram. Por outro, porque parece ser inescapável a necessidade de operacionalizar a eventual criação de uma força internacional de manutenção da paz. Uma força capaz de proteger a Ucrânia, mas também a Europa. Não sabemos ainda o que resultará da reunião de hoje. Porém, a sua realização é, já em si mesma, um sinal muito positivo.
Regista-se, neste momento, um enorme desequilíbrio na relação de forças entre a Ucrânia e a Rússia. Os EUA fazem uma pressão muito desigual sobre os dois países. Junto da Ucrânia, fazem uma pressão enorme. Junto da Rússia, a pressão é superficial e desculpabilizadora, como se viu pelos relatos da conversa entre Trump e Putin sobre as condições de um eventual cessar-fogo. Se o assunto não fosse sério, poderíamos dizer que se tratou de um “faz de conta”, que incluiu, no meio do drama da guerra, o espantoso acordo sobre jogos de hóquei no gelo entre russos e americanos. Neste contexto, só a Europa, aliada a países como o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, pode repor algum equilíbrio, mostrando, sem ambiguidades, que estão dispostos a defender e proteger a Ucrânia. Bem como a protegerem-se a si próprios.
Perguntavam-me uns amigos: mas estamos nós, na Europa, preparados para ver os nossos filhos e netos serem enviados para cenários de guerra? A resposta é não. Não estamos preparados nós nem os líderes europeus. Ninguém na Europa, depois de décadas de paz, de difusão dos valores do humanismo, da liberdade e da democracia, está preparado para a guerra, qualquer guerra. As guerras são sempre más. Mas as ameaças que pairam sobre a Europa, a par da perda dos efeitos de dissuasão provocada pela deserção do amigo americano, podem conduzir-nos a um futuro dominado pela guerra. Este só poderá ser evitado se a Europa aumentar significativamente o seu poder militar, criando um efeito dissuasor próprio. A não ser que se prefira a capitulação perante Putin.
Muitas gerações, em muitos países da Europa , tiveram a sorte de viver toda a sua vida em paz, em liberdade e em democracia. Agora vivemos tempos em que nuvens negras ensombram o futuro. Saberemos dar os passos certos?