Corpo do artigo
Matosinhos tem dado muito ao Norte e ao país. São muitas décadas de contributo, que deixam sobre a cidade um ónus que urge ser reparado. Falo, concretamente, sobre a antiga refinaria de Leça da Palmeira e sobre o Porto de Leixões.
Na refinaria agora desativada, por opção da Galp, perspetiva-se uma nova vida para Leça da Palmeira, sem o peso ambiental anterior e originando uma nova dinâmica de inovação e prosperidade, com os primeiros passos já dados na instalação de um polo da Universidade do Porto e no lançamento da linha de metrobus que vai ligar Leça da Palmeira ao aeroporto.
Mas relativamente ao Porto de Leixões dificilmente poderemos aceitar que Matosinhos suporte o seu crescimento expressivo e continuado dentro da malha urbana, implicando até a destruição de equipamentos e espaços já existentes e ao serviço da população.
Não se trata de renegar a necessidade de reforçar a competitividade de Leixões, posicionando-o como um porto internacional eficiente e atrativo, capaz também de melhorar a infraestrutura de suporte à atividade piscatória e à segurança dos pescadores. Trata-se de sabermos conciliar um crescimento do porto com o desenvolvimento sustentável de Matosinhos, iniciando um processo de devolução de uma zona nobre de Leça da Palmeira e de Matosinhos às pessoas e à cidade.
É preciso olhar agora para o Porto de Leixões com uma visão de longo prazo. E agora porque no atual contexto de incertezas geoestratégicas, o Porto de Leixões adquire uma importância acrescida no contexto europeu.
O Porto de Leixões, essencial para a região e para o país, deve ser repensado. A construção de raiz de um novo porto de mar, a norte no concelho de Matosinhos, mas estabelecido como grande estrutura no mar, mais afastado da dinâmica diária da cidade, é uma possibilidade que deve ser encarada com realismo.
É este o momento certo para este debate, que adquire urgência perante o contexto internacional que atravessamos. A necessidade de independência e de defesa da Europa, infelizmente evidente, é uma oportunidade para a captação do investimento necessário para a construção de uma nova infraestrutura capaz de responder aos desafios da economia, da soberania e da segurança.
Este é um investimento que deve integrar a lista de prioridades da região e do país e que, estou certa, será igualmente entendido em Bruxelas como uma vantagem para a Europa.