Vítor Constâncio foi a personalidade que mais partidarizou o cargo de governador do Banco de Portugal. Foi, igualmente, quem mais foi criticado e depreciado no exercício de tal alto cargo.
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Ajudou José Sócrates a fazer uma leitura catastrofista do consulado do Governo PSD/CDS, fez leituras repetidas e idílicas da realidade da economia portuguesa durante os primeiros anos de governação socialista.
Foi peça fundamental na demolição da última Administração do BCP, promovendo a solução de liderança que se lhe seguiu. Foi omisso no longo caminho que conduziu aos problemas de gestão no BPN e BPP.
Face a este polémico percurso prepara-se para ser premiado com a ascensão à vice- -liderança do Banco Central Europeu.
Anteriormente, no passado recente, António Guterres, após falhar na liderança de um executivo nacional, foi de imediato eleito para um dos mais altos cargos planetários - alto-comissário para os Refugiados.
Igualmente, Durão Barroso, após dois anos de governação medíocre que conduziram à queda abrupta de Santana Lopes, foi indigitado com sucesso presidente da Comissão Europeia.
Independentemente de qualquer deles estar a desempenhar funções de forma relativamente positiva, o que terá feito com que todos eles, como a maioria dos portugueses, falhem no seu país e se afirmem no exterior?
A resposta a esta questão será porventura o grande desafio que se colocará aos dirigentes do novo ciclo político que aí vem.
Aconselho-os a constatar que também há portugueses - como José Mourinho, António Damásio, Cristiano Ronaldo, José Saramago, Joaquim Almeida ou Vieira da Silva e tantos outros - que sendo bons no exterior foram também excelentes dentro de portas. Esta constatação talvez faça com que nos deixemos de desculpabilizar com o clima, com o vizinho ou com o Estado, e consigamos assumir as responsabilidades individuais que a todos deviam obrigar.
2. Esta semana, Paulo Rangel e José Pedro Aguiar--Branco entraram na corrida para a liderança do PSD. É um facto positivo e clarificador.
Após Passos Coelho ter ocupado o espaço historicamente mais liberal e progressista era necessário que aparecesse alguém a ocupar o discurso e as opções mais conservadoras em que sempre se reviram alguns dos quadros do aparelho central do partido.
Paulo Rangel tem a seu favor o facto de ser uma candidatura bem vista por Belém e Bruxelas, ter protagonizado a última vitória eleitoral do partido e ser simpático a um naipe alargado de líderes da opinião publicada.
Terá contra si o facto de nem todos apreciarem a versatilidade que lhe permitiu ser militante do CDS e do PSD em simultâneo e mudar de opinião sobre tanta coisa em escassas semanas. Desde a prometida e não cumprida fidelidade ao Parlamento Europeu, até à jura de só desvendar a sua decisão perante os militantes em Conselho Nacional.
José Pedro Aguiar-Branco tem a seu favor o bom consulado na pasta da Justiça, a forma como tem liderado a bancada parlamentar, a clareza com que defende verdadeiras rupturas - ex: a sua inequívoca militância pró-regionalização, o modo como honra a sua palavra, o que o impede, com manifesto prejuízo político, afirmar-se traindo os amigos mais próximos. Esta vertente de referência ética é a sua grande arma eleitoral.
Este terá contra si um arranque tardio e o facto de a jogada de antecipação de Rangel lhe ter parasitado a sua potencial base social de apoio.
Torço para que o debate seja ideológico e programático, abordando os problemas do país, mas sem esquecer os problemas do partido. Torço também por assistir a uma compita elevada e digna.
Se assim acontecer, o próximo presidente do PSD deve merecer um apoio generalizado dos militantes e simpatizantes, o que tornará inevitável a sua rápida ascensão a primeiro-ministro.