O futuro não se constrói com métodos do passado
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É estranho como procuramos inovar em tantas frentes, maravilhados com o potencial da inteligência artificial e, ainda assim, esquecemo-nos de otimizar as bases que sustentam qualquer inovação: o capital humano. Continuamos a seguir a rota mais percorrida, privando-nos da ousadia de tentar diferente. Tudo em nome de um futuro promissor, ignorando que ainda temos os pés presos a métodos do passado. Talvez esteja, assim, na hora de parar de seguir exclusivamente a corrente e de começar a limar a realidade de forma holística.
A verdade é que uma das variáveis que mais nos moldam é a educação. Diferentes sistemas educativos geram diferentes formas de ver o Mundo e de criar valor. Somos, assim, repercussões de um sistema que condiciona o nosso potencial produtivo e criativo. Em Portugal, é evidente que o sistema educativo carece de reestruturação. Mas talvez a resposta não passe apenas por uma revisão curricular. Se o objetivo é eficácia, há que considerar uma transformação alinhada com a nossa cultura e biologia.
Desde o primeiro contacto com o sistema tradicional, somos enraizados numa lógica em que errar é sinal de fracasso. Seguimos um modelo rígido, onde só a resposta certa é valorizada, esquecendo o poder da tentativa e da criatividade. A isto soma-se a criação da necessidade inconsciente de aprovação externa, fruto de um sistema quantitativo que define o que é um "bom" ou "mau" aluno.
Biologicamente, sabemos que a realidade neural é uma componente inegável deste processo. A ciência mostra que o cérebro aprende melhor quando se sente desafiado e envolvido. Assim, uma pedagogia assente na punição do erro e na repetição de métodos avaliativos tradicionais por exame, com ausência de estímulo, conduz à falta de estimulação do raciocínio e da criatividade, assim como a uma desmotivação progressiva.
Contudo, sendo este um tema tantas vezes debatido, pergunto-me: porque continuamos a agir sem mudar de vez? Será que tudo se resume ao orçamento? Ou será que, afinal, estamos tão habituados a esta realidade, que já deixámos de ver como ela realmente é? A neurociência alerta-nos para a "habituação neural", um fenómeno onde os neurónios deixam de responder ao que é repetitivo e familiar. Talvez, sem perceber, estejamos presos a um ciclo que nos cega perante o problema, tornando a mudança quase impossível. Perpetuamos, assim, o desperdício: de tempo, dinheiro e talento, sem dar ao capital humano português as condições para brilhar.