Corpo do artigo
Fernando Gomes prometeu, Nuno Cardoso lamentou não o ter recuperado, Rui Rio ameaçou mas não o fez e agora Rui Moreira diz que é desta que vai ser. Acreditem que é há mais de 30 anos que as obras do Bolhão estão em cima da mesa autárquica, sem que se consiga passar do papel à prática. Já fizemos o Metro, o Dragão, uma miríade de parques de estacionamento, três pontes, a Casa da Música, Serralves, mas não parecemos capazes de, na segunda cidade do país, conservar e potenciar uma estrutura que tem muito mais para dar do que hortaliça e um palco para campanhas eleitorais.
Em 2008, neste mesmo jornal, escrevi: "Um dia, os nossos netos vão olhar para as velhas fotografias em papel do mercado do Bolhão e, com o mesmo sentimento com que nós hoje contemplamos as imagens do desaparecido Palácio de Cristal, vão perguntar: "Como é que vocês deixaram que isto desaparecesse?"". Hoje, acho que estamos mais longe deste cenário, porque hoje, felizmente, o que está em causa já não é a preservação do passado, mas a garantia do futuro.
Na altura, eu achava uma aberração que deixássemos morrer parte da alma da cidade, hoje sei que é muito mais do que isso, porque entretanto o Porto e o país têm no turismo uma das suas atividades mais competitivas, num mundo em que essa indústria não para de crescer. Segundo o jornal "El País", em 2014, dos 7200 milhões de habitantes do planeta, 1138 milhões cruzaram uma fronteira em viagens de prazer, e o turismo é o responsável pela criação de um em cada 11 postos de trabalho, sendo que cada posto de trabalho no setor gera 1,4 postos de trabalho adicionais. Vale a pena acrescentar que o terceiro país que mais atrai turistas no Mundo é o nosso vizinho.
E o que procuram os turistas? Diferença, identidade, o "very typical", como fazem os turistas que todos os dias invadem os restaurantes que antes eram só para os locais. Por isso era, e é, aberrante a solução de dar ares de centro comercial ao Bolhão, que, como escreveu no JN o arquiteto Correia Fernandes, hoje vereador, "era mais do mesmo". Por isso, é de saudar um projeto que respeite integralmente as suas características e que, com os comerciantes tradicionais, faça jus ao ativo que é para o turismo.
Em 1998, Fernando Gomes já pretendia acabar as obras do Bolhão no final do mandato. Agora, é a vez de Rui Moreira não inscrever o seu nome naquela lista e agir numa atividade determinante em que, cada vez mais, teremos de compreender os cruciais desafios que comporta.