Anunciado em Lausanne, o acordo provisório com o Irão é um passo gigantesco no sentido da paz, que é o melhor sentido que conheço. Se até 30 de junho for efetivamente assinado o acordo definitivo, haverá alterações geopolíticas no Médio Oriente que ninguém se atreveria a antever. Barack Obama, peça decisiva neste fascinante jogo político e diplomático que está a decorrer, continua a mostrar-se fortíssimo na esfera internacional. E tem aplicado ao Irão uma doutrina estranha para alguns, mas a mais eficaz: falar, e negociar, sobretudo com os inimigos. Antes a tivesse também aplicado a fundo na Ucrânia, e não estaríamos naquele atoleiro.
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No caldeirão do Médio Oriente, lançou a mais inesperada revolução, aquela que se faz com as armas da paz e da diplomacia. Os principais pontos do acordo provisório, tal como divulgados, mostram que o Irão consegue ganhar, porque, cumpra ele (e já declarou que irá cumprir), serão levantadas as sanções económicas e financeiras que o estrangulam. Mas fica da mesma sorte sujeito à obrigação de eliminar qualquer possibilidade de vir a ser uma potência nuclear militar. Tudo isto, devidamente verificado e vigiado. A Pérsia vai assumir, e cada vez mais em pleno, o seu papel na região. Israel, no que para si é uma novidade algo assustadora, deixa de ser o interlocutor único da paz, e talvez por isso vá percebendo que a "sua" paz deixou de ser suficiente. E as monarquias sunitas do golfo, rainhas da duplicidade, rangem os dentes. Não vejo nada que me incomode.
2. Num canal de televisão, 3 de abril de 2015, entre as 15h e as 15.01.
O repórter, dirigindo-se à colega: - Não sei se é possível, nesta altura em que as portas se fecham e que começará lá dentro, restrita, a cerimónia fúnebre, se é possível falar com mais alguns cidadãos deste bom povo do Porto que aqui veio nesta Sexta-feira Santa para prestar homenagem ao Mestre Manoel de Oliveira (...)?
A outra repórter (começando logo em grande forma):
- Precisamente, lá dentro agora o bispo do porco..., do Porto, irá dar início então à celebração desta cerimónia fúnebre, com familiares e amigos mais próximos (...).
[Dirigindo-se a uma mulher, fora da Igreja]:
- Conhecia a obra de Manoel de Oliveira?
- Não, não, não estou a par dessas coisas.
- Então está aqui porquê?
- Estou aqui por curiosidade.
Manoel de Oliveira riu de certeza às gargalhadas com esta "homenagem" póstuma e politicamente incorreta do "bom povo" do Porto, talvez das mais livres que ouvi nestes dias de luto. Grande, grande "bom povo" do Porto, rebelde e de coração aberto, capaz de ter como seu quem tem a cidade como casa, e isso mesmo que não conheça a sua "obra"...