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Pela primeira vez na história do investimento público, o Porto bate Lisboa. Vêm aí 287 milhões de euros para a expansão do metro do Porto e 215 para o metropolitano de Lisboa. Não por simpatia ou generosidade do Estado. Antes porque é assim que faz sentido e porque o primeiro gera maior retorno que o segundo. Só é pena que a lucidez e o bom senso não tenham ainda atingido a generalidade do Governo.
O Governo anunciou ontem a decisão de construir duas novas linhas do metro do Porto: Casa da Música-S. Bento e Santo Ovídio-Vila d"Este. São prolongamentos da rede absolutamente consensuais e decisivos para reforçar as condições para o sucesso que o metro já demonstrou ser. E correspondem àquilo que as principais instituições da cidade há anos defendem - no caso, com a Associação Comercial à cabeça.
Em suma, são quase 290 milhões para expandir o metro do Porto e pouco mais de 200 para prolongar o de Lisboa. Não é costume ser assim. Por cada euro investido na capital, o Norte não está habituado a receber mais que pequenas compensações para consolar as almas. "Peanuts", como vulgarmente se diz. O facto de esta repartição da despesa pública, próxima do equilíbrio, não ter provocado escândalo nacional é, em si mesmo, motivo de satisfação. E a circunstância de a decisão ter sido tomada por uma pessoa que é do Norte, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, é várias vezes menos relevante do que a credibilidade dos estudos ou do que a racionalidade dos fundamentos que levaram à decisão. Sendo tecnicamente corretas e politicamente justas, as opções do ministro e o total apoio que obtiveram junto do chefe do Governo devem, ainda assim e sobretudo por inverterem uma tendência histórica, merecer o nosso forte aplauso.
Seria, porém, excessivo julgar que a lucidez, a competência e a racionalidade evidenciadas por um ministro, Matos Fernandes, e o sentido do todo nacional demonstrado por António Costa teriam subitamente iluminado o conjunto do Governo. A semana em que as exportações têxteis portuguesas voltam a atingir e a superar valores pré-crise (e pré-abertura aos mercados asiáticos) é a semana em que a TAP procura diminuir ainda mais a sua já reduzida expressão no Aeroporto do Porto. A história contada aqui no JN, dos voos mais baratos a partir de Vigo (em comparação com o Porto), seria admissível numa empresa privada, mas não numa companhia dita de bandeira. A TAP Air Lisboa é agora também a TAP Air Vigo. Mas, aqui, a defesa do interesse público, que o Governo deveria assegurar, ainda está longe de se vislumbrar.
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO