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Há na contratação do ex-diretor de informação da TVI como consultor do Ministério das Finanças os ingredientes perfeitos para suspeitar que tenham sido beliscadas a ética e a transparência exigíveis a um ministro. Some-se a relação entre ambos na TVI, o modelo de contratação, o cargo encontrado em regime de consultoria externa, o salário, ou ainda o facto de existir na esfera pública um organismo com competência para avaliar as políticas públicas (missão agora entregue a Sérgio Figueiredo) e o resultado é desastroso, de tanto que cheira a esturro.
Recuperando a recente contratação de um ex-jornalista como diretor de comunicação do Governo, politólogos ouvidos pelo JN consideram que António Costa está a antecipar "riscos" e a tentar gerir a perceção de crise criada pela economia e pela situação deficitária em muitos serviços públicos.
Esse foco na comunicação comporta, em si mesmo, dois problemas. Desde logo, uma contratação minada por fragilidades apenas contribui para colocar uma nova crise sobre os ombros do Governo. Fernando Medina fica a dever explicações claras ao país e só mesmo a silly season e a carapaça de um primeiro-ministro experiente e imune a críticas poderão ajudá-lo a ultrapassar esta polémica.
Por outro lado, um Governo perde em credibilidade quando se mostra obcecado pela comunicação. É certo que o incidente com o ministro Pedro Nuno Santos mostrou o quanto pode ser frágil politicamente uma maioria absoluta. É certo que após quase sete anos de governação é natural o desgaste. Mas o início de uma legislatura estável, alinhada com os prometidos milhões da "bazuca", deveria ser uma oportunidade de nos focarmos mais na essência do que na aparência. Se houver energia para resolver ativamente os problemas do país, fazer reformas e introduzir políticas inovadoras, seguramente os resultados surgirão sem esforço na comunicação. Por enquanto, o país tem razões para continuar na dúvida.
*Diretora