Visto de fora, o novo Governo merece, por ora, três apontamentos em jeito de elogio.
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O primeiro tem a ver com o equilíbrio de género, sem precedentes num Governo. Começa a ser a regra, desde logo, na Comissão Europeia. Em 2019, Portugal foi mesmo convidado a apresentar uma mulher para comissária, o que nunca tinha acontecido antes. Tomara que o Partido Socialista, que tem sido o principal impulsionador de propostas legislativas no mesmo sentido, como a lei das quotas para cargos políticos e para lugares de direção no setor público e privado, não se esqueça que esta não deve ser uma ação solta, mas sim uma orientação política coerente. A representação equilibrada nuns lados não pode ser completamente esquecida em outros, e há ainda cargos públicos para os quais o PS nunca se lembrou que as mulheres são mais de metade da Humanidade.
A segunda novidade consiste na colocação dos assuntos europeus no centro do Governo, junto do primeiro-ministro e fora do perímetro dos Negócios Estrangeiros. A política europeia toca todas as áreas, mesmo aquelas onde as competências da UE são limitadas, como a cultura ou a educação, mobiliza todos os membros do Governo, que participam nas diversas formações do Conselho da UE, e também os respetivos serviços, tantas vezes envolvidos na produção legislativa europeia e quase sempre responsáveis pela sua aplicação. Exige assim a mesma coordenação e supervisão política integrada que a política nacional.
A terceira boa novidade respeita à governação da transição digital, agora vista de forma integrada e transversal e igualmente colocada no centro do Governo. Junta-se assim a utilização do digital para o setor público com os incentivos ao setor privado, permitindo definir regras e políticas comuns e aproveitar sinergias, por exemplo em matéria de competências, de dados e de inovação, sem prejuízo de todas as áreas do Governo, da justiça à administração interna, da saúde à segurança social, deverem ter os seus próprios objetivos nesta matéria.
Sobre o resto, em especial avaliar se os novos governantes são reformadores ou conservadores, costumo dizer o que sempre disse a mim própria quando por lá passei: para além do programa de Governo, só no fim é que se vê, por aquilo que fizerem, pela coragem que tiverem para não se acomodar ao existente, enfim pela marca que deixarem. Hoje, que é o primeiro dia de trabalho para um bom resultado em 2026, só me resta desejar-lhes felicidades. Parabéns, só costuma dar quem não sabe o que falta e quanto custa lá chegar!
*Eurodeputada do PS