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Está à vista que uma revolução tecnológica vai (está a) acontecer na saúde. E assim vai ter mesmo de ser, se queremos manter os níveis de qualidade de vida a que nos habituámos e, mesmo, melhorá-los.
Com efeito, de algum modo vítimas do seu próprio sucesso, os sistemas estruturados de saúde que hoje conhecemos – infelizmente, com esta abrangência e universalidade apenas no chamado primeiro mundo –, enfrentam graves desafios que, a não serem ultrapassados, poderão pôr em causa a sua estabilidade e sustentabilidade, com consequências imprevisíveis.
A grande e principal resposta a esses grandes desafios passa pela adoção e incorporação, de forma massiva, e diria disruptiva, de conhecimento e tecnologia, desde a cadeia de produção de medicamentos e de dispositivos médicos, onde o digital e os dados vão assumir preponderância, até à prestação de cuidados, onde, necessariamente, uma abordagem e uma orientação à prevenção terá de assumir papel liderante.Pelo caminho, muito boa parte dos adquiridos quanto aos formatos e modelos de gestão dos atuais sistemas de saúde vão ter de corajosa e determinadamente ser postos em causa e, desejavelmente, reestruturados em favor da eficiência, da racionalidade e, no final do dia, do superior interesse do objeto final disto tudo: o cliente, chame-se este cidadão, doente ou utente.
As boas notícias são que a resposta a estes desafios pelo lado tecnológico está a ser bem-sucedida e os tempos que estamos a viver são neste domínio fantásticos. Veja-se a exploração, sem precedentes e sem limites, das novas fronteiras do conhecimento, como o digital, os dados ou a inteligência artificial, que fez explodir o interesse e o foco na saúde não só das maiores corporações globais como de uma cada vez mais extensa e borbulhante rede de pequenas e médias empresas, movidas por ideias brilhantes, de que também o nosso país, com todo o mérito, faz parte.
As menos boas e preocupantes notícias são as que resultam do desproporcionado insucesso na conceção, desenho e implementação dos modelos de negócio mais adequados para que estas respostas cheguem a quem têm de chegar. Porventura, porque este ponto tem vindo a ser considerado menor, qual pormenor secundário e acessório face à solução tecnológica que ainda se julga essencial e, em larga medida, mais prestigiante.
Muito vai ter de mudar, porque a realidade está a mostrar-nos que temos de dar mais, mas mesmo muita mais, atenção a este tema, que não é fácil e muito menos exclusivamente português. É, manifestamente, um problema da Europa na afirmação da sua competitividade, mas é também, e sobretudo, uma fragilidade que afeta os ecossistemas globais de inovação em saúde. Vão ganhar os que aqui souberem fazer a diferença.
Vamos ter de ser capazes de mudar os “mindsets” numa onda que nos envolva a todos, onde, como sempre assim acontece, as universidades terão de assumir a vanguarda. Vamos ter, na mesma linha, de direcionar e orientar os incentivos e as políticas.
A título de exemplo, não deveria ser mais possível apoiar com dinheiros ou recursos públicos, no contexto nacional ou comunitário, projetos de inovação tecnológica, sem que seja claro e credível o modelo de negócio que está associado aos novos produtos ou serviços a desenvolver.