Corpo do artigo
O líder do PS, António José Seguro, atirou-se com força à carótida do seu camarada António Costa, acusando-o, sem papas na afiada língua, de ser o culpado pela hecatombe dos socialistas registada nas últimas sondagens. "Leio, indignado, as sondagens do "Expresso" e do "jornal i" que dão uma queda brutal ao PS. Este é o resultado da irresponsabilidade do António Costa", escreveu Seguro no Facebook, no seu maior ataque ao presidente da Câmara de Lisboa, desde que estalou a luta pela liderança do PS. Contexto: a sondagem do "Expresso" e da SIC revela uma queda de 5% nas intenções de voto no PS, que agora tem 33%, a mesma percentagem que o PSD e o CDS-PP juntos. Já o "jornal i" mostra o PS em queda livre desde março, quando tinha quase 39% das intenções de voto. O partido tem agora 30,6%, contra 28% do PSD.
Em nenhum momento deste tiroteio "facebookiano" António José Seguro dedica um segundo à autocrítica. Sim, porque pode acontecer que o mal esteja nele, designadamente na forma frouxa como dirige o partido e no modo tão pouco entusiasmante como (não) chega aos portugueses, e não no seu contendor. Ajuda ler, por exemplo, o que entende o intelectual Francisco Assis (antes correligionário de Costa, agora adepto de Seguro) sobre o tema: o eurodeputado julga que Seguro "merece" ser primeiro-ministro, como se nesta coisa da política o merecimento tivesse singela correspondência no reconhecimento. Portanto, se Assis entende que Seguro "merece" ser chefe do Governo, por que não há de o líder do PS entender o mesmo?
Tristemente, para Assis e para Seguro, os portugueses e um aparentemente crescente número de militantes socialistas parece seguirem o caminho inverso. Os primeiros ofereceram, é certo, duas vitórias ao PS, que foram, como é óbvio, pura consequência do protesto contra o Governo. Isso, espantosamente, não chegou para Seguro criar a imagem que o eleitor precisa para se convencer definitivamente de que, passe o coloquialismo, com ele a coisa pode ir ao sítio. Os segundos estão de tal modo convencidos da incapacidade do líder do PS para levar a coisa ao sítio que, pelas contas dos jornais, começam a virar-se fortemente para a hipótese António Costa.
De modo que, antes de atribuir a queda do PS à "irresponsabilidade" e "ambição pessoal" de António Costa", talvez Seguro devesse fazer uma séria reflexão sobre os seus próprios erros. Na disputa com o autarca de Lisboa, o grande equívoco do líder socialista foi prolongar no tempo a batalha: a cada dia que passa, Seguro perde apoios, porque o cheiro do Poder não está do lado dele. Isto, que parece ser de uma meridiana clareza, não ocorreu aos estrategos socialistas? Bem pode Seguro gritar que "o PS não merece isto"! São cada vez menos os que estão disponíveis para o ouvir...