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Se ainda há motivos para usar a expressão "festa da democracia", nenhum será mais adequado do que o das eleições autárquicas. Daqui a duas semanas, os portugueses (e cerca de 35 mil estrangeiros residentes no nosso país) vão escolher 308 presidentes das câmaras municipais (e uns quantos milhares de presidentes de juntas de freguesia). São 308 eleições distintas e cada uma delas que deve merecer, dos respetivos munícipes, a maior atenção. Porque é nessa escolha local que se começa a definir o que serão as escolas dos filhos e netos, se haverá ou não espaços e vontade de acolher os mais velhos, se os parques e jardins são uma prioridade ou uma nota de rodapé, se o lixo será recolhido, se as ruas terão mais ou menos buracos, se haverá capacidade para construir habitação social para os que não conseguem pagar uma casa, se haverá água limpa nas torneiras e esgotos tratados, e um sem-fim de questões que impactam a vida de todos os dias.
Se é verdade que são 308 eleições distintas, o conjunto de resultados permitirá uma fotografia nacional. É relevante perceber se o PS perde ou não para o PSD a liderança em número de câmaras. Se os comunistas resistem ao desgaste (e em particular nas três grandes autarquias que lhes restam: Seixal, Setúbal e Évora). Quem vence nas duas cidades politicamente mais relevantes (Porto e Lisboa), nos concelhos mais populosos (Sintra e Gaia) ou em capitais "regionais" como Braga e Aveiro. Se os movimentos independentes continuarão a ser capazes de competir com o sistema partidário. E, finalmente, que impacto terá o Chega, ou, para ser rigoroso, o líder omnipresente a quem todos devem obediência. É bem provável que o impacto seja grande: ao ponto de conquistar presidências de Câmara.
Na "festa da democracia", acrescente-se, cabem todos. Até os que não apreciam alguns dos direitos e conquistas que ela permitiu. Mas é importante ter em conta que André Ventura não vai a votos. É o candidato ou candidata que está ao lado dele nos cartazes e de que talvez a maioria não conheça nem o nome. É a estes que os cidadãos têm de perguntar pelas propostas e pedir contas. São estes que têm de avaliar, não o "grande líder".