<p>O recente congresso do PSD será lembrado como uma das páginas mais negras da história do partido. Na sua reunião magna, os dirigentes sociais-democratas deliberaram aplicar castigos a quem ouse discordar dos chefes. Instituíram desta forma, no mais democrático dos partidos portugueses, o pecado de delito de opinião. O partido de Sá Carneiro desonra assim a memória do seu fundador, cujo primeiro grande combate político foi justamente, ainda nos tempos do fascismo, a defesa da liberdade de expressão.</p>
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Nesta fase da vida do partido, aprovar uma regra que legitima a perseguição aos críticos do poder é inadmissível no plano dos princípios. Além de que do ponto de vista político é uma imbecilidade.
O PSD apouca-se e incorpora, embora em menor escala, os piores defeitos dos partidos comunistas de índole estalinista, que segregavam os militantes com opiniões distintas e os enviavam para o degredo ou campos de concentração. Este sistema ficou tristemente conhecido como Gulag.
Por outro lado, esta aprovação no cair do pano do congresso, desviou a atenção do que tinha sido o essencial do conclave e abortou um processo de recuperação que se havia iniciado no PSD. Além de que vem alienar todo o capital político acumulado através duma crítica sistemática à asfixia que o poder socialista vigente impôs à sociedade portuguesa.
Esta norma absurda, não tendo qualquer justificação, tem uma origem evidente: uma birra de Santana Lopes que, tendo tido um mau perder nas legislativas de 2005, vem agora ajustar contas com aqueles companheiros de partido que então o dilaceraram com críticas. O menino guerreiro exibiu a sua faceta de miúdo mimado e contou com a conivência de elementos afectos à actual direcção, a começar por Ferreira Leite. Desprovidos de legitimidade ou até de autoridade, tentam impor-se através dum poder que lhes escapa, transformando em regras as suas obtusas vontades.