<p>A seguir ao terramoto de 1755, que levou um quarto da população de Lisboa, os filósofos dissertaram. Kant escreveu uma espécie de errado manual sismológico, e Voltaire e Rousseau divagaram sobre o optimismo e o fatalismo, ajustando contas póstumas com Leibniz e Alexander Pope. A vaga de 15 metros, que se seguiu ao sismo (dois graus mais intenso que o do Haiti), tragara uma das grandes e ostentosas metrópoles europeias, centro de um império ainda apreciável. Na onda de choque, uma caserna militar caiu no Luxemburgo, matando um batalhão inteiro. E na ciência, na arquitectura, na planificação, Pombal e o Mundo entenderam que, face à instabilidade da Natureza, só o conhecimento, a inteligência e a coragem podem salvar vidas.</p>
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As catástrofes dos outros fazem-nos reflectir sobre a nossa relativa fortuna.
A humilde e pobre mãe de um militar da ONU, "morto, fazendo o dever do soldado" (sic), lembrou o que o filho disse, quando chegou ao Haiti: "Comparado a esta miséria, mãe, nós aí no Brasil temos um vidão!".
Por cá, os problemas também são menores, mas há uma espécie de desastre nacional em curso.
Os assaltos violentos aumentam por todo o país, como se os meliantes profissionais e os desesperados quisessem aproveitar, antes que entrem em vigor as novíssimas normas penais e processuais penais.
Depois das primeiras vitórias, no casamento unissexo (que abrilhantou o patético argumento do "pobrezinhos, mas avançados"), e no acordo com os professores (com louros também reclamados pelo PSD), José Sócrates prepara-se para negociar a conta geral do Estado.
Mas que pacto é esse? Pode alterar a classificação creditícia de Portugal, de "negativa" para "estável"? Pode aumentar a nossa competitividade, que desceu do 22.º para o 48.º lugar, segundo o Fórum Económico Mundial, em 2008? Pode alcançar as metas originais de Maastricht (onde estão?): não mais do que 3% de défice, e dívida externa não superior a 60% do PIB?
Pode cortar na gordura, e solidificar o músculo do Estado? Pode unir trabalhadores e patrões, como se juntaram acidentalmente no novo chefe da CIP, que já foi trabalho e é hoje capital (que trabalha)? Pode ajudar, sem desperdiçar? Pode dar o exemplo? Pode investir no (provadamente) útil?
Pode agradar, nem que seja só a gregos?
Os troianos emigraram.