O desemprego é o problema que mais preocupa os portugueses. Têm razões para isso. Raro é o dia em que não há o encerramento de uma empresa, o lay-off de mais trabalhadores ou o anúncio, pelas instituições de solidariedade social, do aumento da pobreza. Some-se-lhe o discurso catastrofista dos profetas da desgraça e está criado o cenário para a depressão, não apenas económica como psicológica.
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Analisando, mais de perto, o exército de desempregados, constata-se que muitos dos que se perpetuam nessa condição são pessoas com poucas qualificações e idade superior a 45 anos. Quem reunir essas características, e cair no desemprego, dificilmente de lá sai. Apesar dos baixos salários que antes recebiam - o que os torna caros não é o salário, é o baixo valor do que são capazes de produzir. A recuperação económica só por si não absorverá estes trabalhadores.
Perante esta situação, há duas opções: a resignação ou o voluntarismo político. O prolongamento do subsídio de desemprego ou as reformas antecipadas são formas de capitulação. Fazem as contas e concluem que fica mais barato assim. A pretexto de garantir um rendimento, renunciam. Tacitamente rotulam as pessoas de inúteis, esvaziando-as do mínimo de dignidade. Abrem a porta a comportamentos oportunistas onerando, com um peso a prazo insuportável, a sociedade.
A alternativa requer políticas pouco ortodoxas, o conhecimento detalhado da realidade, ao nível local e pessoal, e o compromisso de vários actores económicos e sociais. O ponto de partida e de chegada são as características dos desempregados - baixas habilitações e idade superior a 45 anos. A ideia: encontrar ocupações compatíveis com essas qualificações. Úteis. Não está a inventar-se trabalho. É preciso que haja a identificação de uma necessidade.
Ao nível local, com o envolvimento das juntas de freguesia e algum apoio técnico que poderia ser dado pelas IPSS ou pelas universidades. Visitas domiciliárias a idosos. Limpeza de ruas. Arranjo de jardins. Gestão de estacionamento. O leitor, certamente, terá outras sugestões. Se quiser contribuir, envie sugestões para albertocastro.jn@gmail.com.
No caso das empresas, a quebra da procura decorrente da crise acelerou o inevitável: os salários, mesmo baixos, são muito mais altos do que os praticados noutros países. O que estas pessoas faziam era igual ao que se faz na China, Índia ou Vietname. A diminuição dos custos de transporte e das comunicações tornou possível que a sua obra cá chegasse a preços mais baixos do que aqueles a que conseguíamos produzir. Nuns casos, muito mais baixos. Noutros, nem por isso, por razões de urgência, de qualidade ou de incerteza. Nestes, um abaixamento do custo tornar-nos-ia, de novo, competitivos. Ainda que transitoriamente. Quiçá o tempo necessário para estas pessoas chegarem à reforma. Uma redução para metade da taxa social única seria suficiente? Em conjunto com as associações empresariais, determinar-se-ia o quanto. Em contrapartida, garantiriam emprego por um prazo a estabelecer e não despediriam outros trabalhadores para contratar estes.
Não é esta a sede certa para detalhes. Sei uma coisa. A resolução deste problema requer o conhecimento da sua extensão, sensibilidade para a sua dimensão social, capacidade de diálogo e disponibilidade para pensar de forma não ortodoxa. Características que Vieira da Silva reúne.