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Definir o humor não é fácil. Se numas situações se apresenta sob a forma de sátira, noutras apresenta-se sob a forma de ironia: a sátira encarada como um ato de zombaria sobre algo que nos é estranho, algo até que repudiamos; a ironia como troça do que se repreende, onde pode caber um sentido de solidariedade e mesmo um intento pedagógico. Mas há também as situações de humor puro e simples, o humor que descomprime tensões, provocando o riso.
Por isso, defini-lo como um meio para fazer rir é perspetivá-lo numa visão redutora. O humor não visa fazer rir apenas. O riso e quem o provoca revestem, por vezes, uma forma mais ousada de pensar. O humorista, mas o humorista de corpo inteiro, é um filósofo pragmático. Daí o humor poder ser elencado em três patamares: rir de, rir com e rir por.
1 - Rimo-nos do ridículo, da idiotice. É uma forma desqualificada de humor. Não é um humor organizado. O agente do ato humorístico não controla a situação de humor e cai frequentemente, ele próprio, no ridículo. Este é o papel que um qualquer doido ou imbecil pode desempenhar na perfeição.
2 - Rimo-nos com alguém. Com quem nos faz rir, ou então com quem partilhamos a mesma recensão de humor. É o riso contagiante.
3 - Rimo-nos por haver todo um quadro humorístico concebido para nos fazer rir. Este patamar configura a situação mais nobre do humor. Rimo-nos pelo (e não do) talento que alguém tem de nos fazer rir. Rimo-nos porque (e quando) o humorista quer. Por isso, o bom humorista controla sempre a situação. Quando, num quadro humorístico, descai para uma situação imprevista e embaraçosa, tem sempre a capacidade imediata de controlar ou sublimar o contratempo, de repor as coisas no seu lugar, introduzindo variantes de humor que lhe permitem o controlo permanente da situação.
E vivam os humoristas! Sem eles, a vida era uma seca.