A emergência do movimento do Tea Party na política americana parecia de início um fenómeno passageiro destinado a desfazer-se com o tempo.
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Sem declaração de princípios, sem estatutos ou órgãos formais de liderança, o Tea Party surge como movimento informal, sem porta-voz nacional, aparentemente espontâneo e inorgânico. À medida que se aproximam as eleições de Novembro para o Congresso, os olhares sobre o movimento da direita radical americana já mudaram de natureza.
O aparecimento do Tea Party é visto agora como uma força capaz de introduzir significativas mudanças na paisagem eleitoral americana. A designação escolhida, aludindo a um acontecimento inscrito na história da independência da América, pareceria, à partida, risível e desconcertante, mas a capacidade de mobilização revelada nas ruas de certas cidades, com destaque para Washington e os resultados obtidos em certas eleições primárias obrigam a compreender a ousadia do título com pretensões a deixar marca vida política dos Estados Unidos.
À primeira vista o Tea Party poderia beneficiar os Republicanos, até porque em determinadas zonas os partidários do novo movimento e os Republicanos confundem-se. Mais: os candidatos com a chancela do Tea Party derrotaram, nas primárias de vários Estados, os Conservadores clássicos e moderados que pareciam de pedra e cal nos seus lugares. A questão consiste em saber se o Tea Party vai ser um factor de revitalização do Partido Republicano ou se, pelo contrário, prejudicará os seus resultados ao apoiar candidatos mais radicais, com menos possibilidades de conquistar votos "centristas".
Não é fácil contar, desde já, os potenciais votantes no Tea Party (numa sondagem feita em Abril, calculava-se em 18 por cento a percentagem de americanos que se identificavam com o movimento). A sua força não advém essencialmente dos dados transmitidos por inquéritos de opinião, mas pela sua capacidade de mobilizar activistas dispostos a descer à rua com bandeiras e cartazes.
Quando entende que certos "conservadores (são) insuficientemente conservadores" (E.J. Deonne Jr), o Tea Party pressiona as estruturas do Partido Republicano a abandonarem o perfil clássico dos seus candidatos (em linguagem europeia, de centro direita) por outros mais radicais, abrindo espaço ao centro que, eventualmente, poderá beneficiar os democratas.
Não é provável que o novo movimento político pretenda transformar-se em terceiro partido. A história da terceira força nas eleições americanas é toda ela feita de derrotas, desde Theodore Roosevelt, no princípio do século XX, até ao recente ecologista Ralph Nader, que facilitou a (contestada) vitória de George W. Bush contra Al Gore. Não é provável que os candidatos a refundadores da política americana corram o risco de similar insucesso.
Preferem provavelmente o papel de "grupo de pressão", criando vastas zonas de sobreposição com o Partido Republicano e forçando-o a radicalizar-se Se os republicanos cederem a essa estratégia farão o contrário do que os democratas fizeram, em 2006 e 2008, escolhendo candidatos "centristas", com maior possibilidade de captar eleitores em zonas moderadas.
Será uma boa opção? Tendo presente o interesse dos Republicanos, enquanto partido, parece que seria uma péssima escolha, a menos que nos próximos tempos a América "vire" decididamente à direita, adoptando as linhas gerais do programa hiper-conservador do Tea Party. Nem ao tempo de Ronald Reagan os republicanos se mostraram tão radicais.
