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As últimas semanas da política nacional marcaram o marasmo - que infelizmente se vive desde dois mil e nove - com um aumento de conflitualidade pública, berraria e referências pessoais, verdadeiramente dispensáveis para a tranquilidade de um bom pai de família português. Parece evidente que seja qual for o desfecho da novela alguns terão dificuldades em ficar bem na fotografia.
Todo este drama criado à volta da aprovação do Orçamento tem por base uma história já antiga. Por várias vezes afirmei que o país está desde as últimas eleições legislativas a viver num impasse. A sua base é simples. José Sócrates não sabe coabitar com diferentes opiniões. Logo também não consegue governar em maioria absoluta. Não tem capacidade para conversar, quanto mais dialogar, com outras forças políticas. Não foi a ridícula encenação de conversações com os vários partidos, desde o BE ao CDS, que alterou o que quer que seja.
O PS, no seu espectro político só consegue aprovar medidas em "causas fracturantes". Foi a isso que se dedicou neste último ano. Entretanto a dívida do país sobe, os juros pagos aumentam, o défice não diminui, a despesa pública continua em descontrolo, o desemprego mantém-se alto, e a economia não mexe. Perante isto já aparecem vozes a falar de uma entrada do FMI, antecedida da utilização do Fundo de Estabilização Europeu.
Pelo meio de toda a história o PSD auxiliou a aprovação do PEC. Depois pediu desculpa pelo aumento de imposto permitido. E agora diz: não há mais conversas, apesar das notícias difundidas de que pode aprovar o documento orçamental. Para quem, como eu, considera que não se deve falar de conversas privadas em público, muito menos utilizar uma conferência de imprensa para o efeito, a situação atingiu a fase do horror. Este mundo criado pelo PS e PSD está de pernas para o ar. Bem pena tenho que não se tenha optado por um governo de largo apoio (entre PS, PSD e CDS). E lamento, sinceramente, que à direita não se tenha aproveitado o tempo para afirmar um projecto coeso para alcançar uma maioria.