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A marcação de eleições legislativas antecipadas menos de um ano depois da posse do atual Governo obriga a uma reflexão sobre o turbilhão de episódios que nos levaram a três atos eleitorais num espaço de tempo tão curto.
Sobretudo desde a entrada no euro, o país tem apresentado crescimentos consolidados relativamente modestos. Alguns sinais positivos dos últimos anos, suportados pelo crescimento do setor do turismo acima de todas as expectativas, são positivos em si mesmos, mas também têm originado alguns efeitos colaterais, nomeadamente no acentuar de uma certa desregulação do mercado de habitação e nivelamento salarial numa base modesta. Por outro lado, as razões que levam à dissolução do Parlamento são de uma natureza tão específica e focadas na pessoa do líder do Governo, que o acentuar deste caminho de judicialização parlamentar pode criar um precedente de consequências imprevisíveis.
Torna-se por isso mesmo imperioso que a próxima campanha eleitoral se concentre na discussão daqueles que são os nossos verdadeiros desafios: a necessidade de implementação de reformas estruturais que nos permitam sair de um crescimento anémico prolongado; a preparação de alternativas para a dependência excessiva do turismo e do PRR, próximo do seu final, bem como uma verdadeira reforma fiscal, que nos liberte progressivamente do sufocante peso dos impostos e crie condições para uma economia saudável e uma administração pública sólida, mas flexível, verdadeiro suporte em áreas-chave do Estado como a educação, a saúde, a justiça e a segurança. Ou seja, muito mais do que as guerrilhas e as discussões interpessoais, importará debater o nosso futuro como país. Se não o fizermos, insistindo na fulanização das campanhas, numa espécie de “quanto pior melhor”, então continuaremos a assistir ao nosso declínio inexorável, com mais ou menos lentidão, com perda de esperança para os nossos jovens mais qualificados. Seremos seguramente Portugal, mas temos a obrigação coletiva de fazer melhor.