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Arranca um novo ciclo, renovam-se ambições. É sempre assim, no desporto e na vida, mas, pelo meio, há engulhos e obstáculos para ultrapassar. Este ano, a FIFA lançou ainda uma competição que, na verdade, não se sabe bem o que vai dar. André Villas-Boas, presidente portista, admitiu que muitos jogadores preferiam não estar em prova nos Estados Unidos para, desse modo, retemperar as forças e voltar em pleno na próxima época. É fácil de perceber, ninguém gosta de trabalhar nas férias. É o caso.
Fazer milagres com migalhas é uma ciência, sai do corpo e obriga ao improviso como um discurso de despedida, que deixa a mão a tremer. Lutar para subir de divisão com um plantel que tem defesas-centrais mas está privado de goleadores não é para todos. A analogia aplica-se ao desafio que alguns treinadores vão ter neste Mundial de Clubes, onde olho para Martín Anselmi (que jogou nesta madrugada) e Bruno Lage, pressionados pela obrigação de mostrar algo palpável.
O treinador do F. C. Porto, cheio de ideias novas e boa vontade, divide os adeptos, e o técnico benfiquista perdeu o élan do regresso a casa com a perda do campeonato e da Taça de Portugal para o Sporting. São estes os dados que estão em cima da mesa entre o fim de uma época e o início de outra. O Mundial de Clubes acaba por ser um presente envenenado, que obriga a esforço suplementar, e tenho a sensação de que as principais equipas europeias vão acabar por sentir dificuldades, independentemente de serem superiores a nível técnico e tático. Em termos mediáticos, o preço dos bilhetes do jogo de abertura ter baixado de 300 para 48 euros significa alguma coisa.
Portugal ganhou a Liga das Nações, há uma semana, e a conquista foi desvalorizada por uns quantos, que tentaram apagar que a equipa das quinas conquistou a final four com uma reviravolta sobre a Alemanha, em solo germânico, e uma vitória, nos penáltis (sem falhar nenhum!), depois de anular duas desvantagens sobre a toda-poderosa Espanha. Retirar valor quando não se consegue ser melhor é um clássico e ouvi várias lendas da bola a tentarem fazer isso com o êxito português, mesmo com Roberto Martínez ao leme e as invenções de João Neves a lateral-direito.
Antes dos graúdos, já se tinha assistido à proeza dos sub-17, que se sagrarem campeões da Europa, e os sub-21, que estão em ação no Europeu, deixam água na boca. A Federação Portuguesa de Futebol também iniciou um novo ciclo, mas as bases e sementes já lá estavam e, quando assim é, o mais inteligente é não estragar, mantendo o trajeto. Como fez Rui Borges ao comando técnico do Sporting, depois de inicialmente não ter resistido à tentação de mudar. Esta parece-me ser uma boa dica para quem quer triunfar no desporto e na vida, mantendo o foco mesmo quando o momento é de transformação. Como uma borboleta.