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Eu gostava de não ter de escrever sobre a TAP. Pelo menos, não com tanta frequência e sempre por tão más razões. A TAP que acaba de perder, no primeiro semestre, 493 milhões de euros. A mesma TAP que António Costa garantiu, em pleno congresso do PS, "não hesitar em salvar".
Eis o socialismo à portuguesa - salvar empresas falidas com o dinheiro dos contribuintes. Convertê-las, através da injeção de fundos públicos, em empresas do Estado. Foram 1,2 mil milhões em 2020, será quase o mesmo até ao fim deste ano. Por uma empresa que não serve o Norte, o Algarve, a Madeira e os Açores e que, ainda assim mal, se resume à operação a partir de Lisboa. Mas o socialismo à portuguesa é o mesmo que, junto da Comissão Europeia, jura pela livre concorrência e garante o normal funcionamento do mercado.
Em termos práticos, os mais recentes (quase) 500 milhões de perdas da TAP dariam para construir 19 alas pediátricas do Hospital de S. João ou duas linhas do metro do Porto. É um prejuízo que corresponde a meio aeroporto no Montijo ou a perto de metade do orçamento anual do Ministério da Agricultura. Trata-se de uma conta de 48 euros por cada português. Quer viaje quer não viaje na TAP. E como o número de verdadeiros contribuintes fiscais é bem inferior ao número de cidadãos, quem paga, paga a sério.
O argumento, falso e estafado, do interesse nacional, nunca teve correspondência na cobertura geográfica do serviço aéreo. Agora nem no peso e no impacto económicos da companhia ele encontra verosimilhança. O interesse nacional seria não permitir que a obsessão com a TAP prejudique a atividade de outras companhias em Portugal (privadas e não apenas as low-cost), com os consequentes danos para todas as regiões (Lisboa incluída). O interesse nacional passaria por deixar de pagar um buraco chamado TAP. O interesse nacional seria por fim à delapidação continuada de dinheiros públicos.
Resta-nos constatar que, ao fim de cerca de seis anos de Governo socialista - e, no caso, não lhe vale a desculpa de estar ancorado em parceiros radicais -, o interesse nacional é um bem cada vez mais escasso.
*Empresário e pres. Ass. Comercial do Porto