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Com honrosas exceções, os últimos 40 anos mostraram a forma demagógica como são abordados os problemas do desenvolvimento territorial, em especial no que é comum designar-se por zonas do interior ou de baixa densidade. Na década de oitenta, com o apoio financeiro do banco mundial, uma equipa liderada pelo prof. Valente de Oliveira colocou no terreno o PDRITM, Plano de Desenvolvimento Territorial Integrado de Trás-os-Montes e Alto Douro, que representa ainda hoje a mais significativa intervenção nesta região, com consequências no seu desenvolvimento económico. A navegabilidade do canal do Douro, a forte e decisiva reconversão da vinha, os modelos integrados de produção agrícola e animal e a aposta na valorização de recursos endógenos são sinais indeléveis dessa intervenção marcante. É óbvio que este programa implicou um esforço muito considerável de recursos financeiros alocados ao projeto.
Daí para cá, infelizmente, assistimos a ações com marca evidente de uma certa matriz sociológica que, seguindo uma cartilha que garante a perfeição académica do modelo, acaba no final por apresentar resultados frustrantes, ou próximo disso. Por norma, dizem que temos de parar para pensar, criar um grupo de estudo ou, de preferência, uma unidade de missão, terminando os trabalhos com uma ou várias conferências e amplos debates. Daqui pode resultar um conjunto de propostas que o Governo promete analisar e implementar em momento oportuno. Sem pôr em causa a boa vontade, ou competência, dos seus responsáveis, foi o que aconteceu com a unidade de missão do Douro e que está de novo a caminho com a nova unidade de missão, agora para o interior. Dos muitos milhões de euros gastos no primeiro caso, para além da efemeridade de alguns sites, filmes e músicas, pouco mais resta do que cerca de 800 metros de um bonito arranjo na marginal da nacional 222 na zona de Folgosa. Não há sequer um documento mínimo de proposta de intervenção global nesta via tão importante para a região duriense. Na nova experiência em curso já se fala em mais de 160 medidas que o Governo vai analisar!
Entretanto, e por recurso a dívida em metade do valor, isso mesmo dívida pública provavelmente negociada para não contar para défice, anunciam-se 500 milhões de euros de investimento na capital. Pelo mesmo Governo que se opôs de forma veemente à minha proposta de aumentar os pouco mais de 700 000 euros atribuídos ao município mais pequeno da região, no âmbito da distribuição de verbas no Norte 2020!
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO