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Mais de mil dias depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra entra numa nova fase. A chegada de 10 mil soldados norte-coreanos para combater ao lado dos russos em solo ucraniano constitui um sinal de mudança, porque se alteram equilíbrios geoestratégicos, modifica-se a perceção do conflito e propaga-se a ameaça de uma guerra global.
Controlando um dos maiores exércitos do Mundo, com cerca de 1,3 milhões de homens armados, a Coreia do Norte intimida. Desde logo, a Coreia do Sul e o Japão, pelo perigo de internacionalizar um conflito que poderá ter na Ásia um balão de ensaio explosivo. Por outro lado, este envolvimento constitui também um problema para a China que, por força de tratados, é obrigada a socorrer a Coreia do Norte, caso esta seja atacada.
E o que ganha a Coreia do Norte com este apoio militar à Rússia? A revista “Courrier International” dá a resposta esta semana, num extenso dossiê dedicado ao tema: sela, antes de tudo, uma aliança com uma potência temida; encontra aí uma ajuda importante para contornar sanções contra o regime; garante o fornecimento de petróleo russo, assim como a transferência de tecnologia para armas nucleares táticas. Não é pouco.
Em toda esta equação, há uma parcela crítica: Donald Trump. Em tempo de eleições, o candidato republicano prometeu terminar com este conflito. Se não quiser envolver-se diretamente, pode somente diminuir os apoios e isso terá uma influência decisiva nos contornos da guerra. Muitos observadores defendem que Putin acredita que, com a eleição de Trump, o conflito pode acabar nos termos em que deseja. Basta saber esperar.
Neste contexto de enorme tensão, há uma zona do globo onde se desenrola uma batalha de influências, típica de uma verdadeira guerra fria completamente ignorada pelos média noticiosos: no Sahel, em África, russos e ucranianos travam, muitas vezes através de operações secretas, uma musculada ofensiva que se estende a vários países (Mali, Níger e Burkina Faso). São conhecidos os interesses russos em solo africano com vista a ganhar aí influência política e, ao mesmo tempo, extrair ilicitamente ouro e diamantes. Putin joga com vários trunfos, sobretudo estes: o fornecimento de armamento e as milícias russas que se multiplicam em vários lugares. Nos últimos tempos, a Ucrânia tem procurado diminuir essa influência, instalando embaixadas em vários países, enviando emissários para o terreno, envolvendo-se com empresas de segurança privada pagas por vários países europeus e atacando diretamente certas zonas com drones. Esta outra guerra promete também endurecer...