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Os elevados custos militares desde que a Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro do ano passado e o impacto das sanções internacionais estão a levar o orçamento de Putin a apertos nunca pensados, ameaçando a estabilidade do rublo e o consequente empobrecimento da população.
Mesmo assim, a Rússia adaptou-se melhor às sanções ocidentais do que o inicialmente esperado, mas, a médio prazo, a sustentabilidade da sua economia começa a ser seriamente afetada.
As elevadas despesas militares devido à guerra, a fuga de capitais, o colapso dos rendimentos causado pelas sanções e a redução da força de trabalho, como consequência da mobilização militar, resultaram numa economia incapaz de fazer face à procura interna e com sérias dificuldades em encontrar financiamento. Não é por acaso que Putin tem recorrido à China, e mesmo à Índia, para colmatar estes buracos, mas com um preço alto que chineses e indianos aproveitam. Os altos e baixos a que a economia russa está sujeita estão bem refletidos no preço do rublo, que perdeu mais de 50% do seu valor no último ano e forçou o Banco Central da Rússia a aumentar as taxas de juro até chegar a 12%. Ao longo de 2022, os elevados preços da energia e a forte dependência da Europa dos fornecimentos russos de petróleo e gás permitiram a Moscovo contornar com relativo sucesso as sanções ocidentais. Mas a União Europeia conseguiu a desconexão quase total dos gasodutos russos em novembro passado e, desde o início deste ano, as importações de crude dos Urais têm sido sujeitas a um limite de preços que fez cair os lucros do Kremlin e colocou as suas contas com sérios problemas. As exportações caíram 31% até agora, em comparação com um aumento de 35% nas importações. Ou seja, a guerra com a Ucrânia consome quase um terço do seu orçamento e já no primeiro semestre do ano as contas públicas ultrapassaram o objetivo do défice para todo o ano.
Apesar das sanções, a Rússia tem conseguido, a muito custo, contornar as suas dificuldades. A falta de fiscalização e de regulamentação internacional fazem com que, por exemplo, produtos ocidentais que são exportados para a Ásia Central acabem em território russo. É o jogo do gato e do rato que, em todo caso, tem sempre elevados custos para a Rússia.