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Rejubile, leitor, já não ficará sem subsídios de Natal e de férias, já não terá que dar meia hora de trabalho diário de borla ao patrão, já não verá o seu salário comido pelo fisco e pelos aumentos da electricidade, gás, água e mais bens essenciais, já não precisará de temer pelo seu emprego (se ainda tem emprego), nem pelo futuro dos seus filhos, nem pela sua reforma, nem pela sua saúde e da sua família.
O mundo acabará na próxima madrugada à 1 hora (menos uma hora nos Açores), garante a igreja cristã do pastor Harold Lloyd, digo Harold Camping, sustentada em numerosos textos bíblicos, e a essa hora começará, finalmente, o ansiado Juízo Universal. A boa notícia é que, nesse Juízo, não se aplicará a reforma penal de 2007 e os crimes dos poderosos não acabarão inevitavelmente na prescrição.
Se o Juízo Universal for, como em "Il Giudizio Universale" de De Sica/Zavattini, transmitido em directo pela TV e a chamada feita por ordem alfabética, antes de a maior parte de nós ir parar ao Inferno (e não me refiro ao OE para 2012), teremos todos oportunidade de ver Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo (os três "mais ricos de Portugal", por algum motivo Deus fez com que os seus nomes começassem pelas primeiras letras do alfabeto) a explicarem--se ao Criador. Não é espectáculo que me interesse; a essa hora estarei a ler Dostoiévski e a lidar com a consciência moral de Raskolnikov.