1. Esta semana, os dados avançados pela OCDE vêm confirmar que a Europa se encontra a levantar cabeça, depois de um longo período cabisbaixa em consequência da crise que afetou as economias do euro. Com os bons sinais vindos da Alemanha e da França, a esperança de um terceiro trimestre que confirme este desempenho começa a fazer sentido.
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Em Portugal, apesar dos indicadores do segundo trimestre terem sido interpretados por muito boa gente como significando que o pior já passou, estamos ainda muito longe de o poder afirmar. Oxalá assim fosse. Mas, como referi na semana passada, os dados de que dispomos demonstram que tudo isto é muito ténue, frágil e insuficiente. O bom pico turístico que estamos a viver pode contribuir para dissimular muita coisa. Não devemos esquecer que, a despeito destes sinais, a economia portuguesa se retraiu quando a comparação é feita em termos homólogos. E não podemos ignorar que o défice, como indiciam os resultados de julho, dificilmente se ficará pelos acordados 5,5% o que, mesmo assim, significaria ainda mais dívida. E já vamos nos 131,4% do PIB, o que superou todas as previsões, mesmo as mais negativas.
É claro que é preferível ter sinais, mesmo que leves, que apontam para uma possível retoma do que persistir deprimido sem algo a que nos agarrarmos. Porém, há um reverso na medalha, um lado negativo nestes sinais positivos que carecem de confirmação, que nos devem preocupar. O perigo destes sinais é que o Governo os tome como consolidados e pense desde já que afinal tinha razão em aplicar sem hesitações o programa puro e duro da troika. A ideia de uma excessiva austeridade com risco de espiral recessiva que preocupa muitos, presidente da República e FMI incluídos, pode passar a ser entendida como catastrofista e sem sentido sendo com este entendimento que se prepara o Orçamento do Estado para o próximo ano. E, em consequência, a não se sentir necessidade de encontrar um modelo económico alternativo.
Até ao momento, o Executivo tem sido prudente na avaliação que tem feito destes indicadores. Mas sente-se uma nova postura na forma de agir dos seus membros, um respirar à superfície quando pareciam já não poder emergir, do que é um bom exemplo o discurso de Pedro Passos Coelho no Pontal. Das notícias que falavam invariavelmente nas manifestações de descontentamento popular e nos apupos ao Governo, passamos para um registo em que já é possível constatar a simpatia com que o primeiro-ministro é abordado em alguns aparecimentos públicos.
Como sabemos, em política o definitivo é muitas vezes provisório.
Mas cuidado. É ainda muito cedo para se lançarem foguetes.
2. O Centro de Produção da RTP Porto volta a ser notícia. E não pelas melhores razões. Uma entrevista do diretor de programas da televisão pública pôs em alerta, de novo, os trabalhadores do Centro de Produção do Norte e desencadeou uma série de reações de líderes de opinião e responsáveis políticos, entre os quais o do PS Porto. A questão já tinha estado ao rubro quando a Administração da RTP tinha decidido passar para Lisboa um dos seus programas mais populares - a Praça da Alegria (que só perdeu audiências com a mudança). Na altura e face às manifestações de protesto contra a desvalorização dos estúdios do Norte, fizeram-se promessas. A opinião pública portuense estava sensível por na mesma ocasião o Governo ter cortado o orçamento da Casa da Música em 30% contra o previamente acordado. E sentiu-se necessidade de minimizar os danos. Centralizar no Porto a produção da RTP2 seria a fórmula para dar relevo aos estúdios do Monte da Virgem. Só que, passado todo este tempo, nada.
Acontece que o primeiro-ministro anunciou recentemente a instalação no Porto de um banco de fomento, com o que me congratulei, considerando a decisão um bom sinal para a cidade e para a Região Norte. Depois disso, veio a público a preocupação dos trabalhadores da sociedade Metro do Porto com a possível deslocalização efetiva da empresa para Lisboa. Agora, denuncia-se a já assumida minimização do Centro de Produção da RTP Porto. Até parece que o Governo quis, com o sinal positivo dado pelo anúncio do banco, dissimular a sua provada obsessão centralizadora. Afinal, pretendeu dar-nos com uma mão o que nos quer tirar com a outra.