s profissionais de futebol são muitas vezes visados pelos privilégios. Quem joga em grandes clubes ou grandes ligas recebe salários com muitos dígitos, permitindo todos os luxos, apesar de a carreira ser relativamente curta. Para pagarem tão bem, as sociedades desportivas precisam de receitas astronómicas, boa parte encaixada através de direitos de transmissão televisivos, transferências de jogadores, publicidade e bilhética. Estas parecem-me as vias mais legítimas para financiar a atividade, porque a alternativa, explorada até ao tutano, reside em investimentos astronómicos cujo dinheiro tem origem ninguém sabe muito bem onde. Neste segundo caminho, há casos incompreensíveis de clubes que, época após época, acumulam prejuízos e continuam a fazer contratações estratosféricas, apesar do fairplay financeiro da UEFA. O recurso a este tipo de expediente penaliza a vertente desportiva, porque um clube sem base social, sem história, sem rostos, pode, quase de uma hora para a outra, trepar duas ou três divisões.
O dinheiro, sendo indispensável numa atividade como o futebol, não pode comandar tudo. A primeira via, a das receitas tradicionais, deve ser estimulada. É por isso que há cada vez mais jogos, tanto de clubes como de seleções. O problema é que a densidade competitiva está a penalizar os atores principais de qualquer partida de futebol, os jogadores, claro está.
Presente na Web Summit, em novembro passado, o internacional português Rúben Dias sentenciava que, “para ter melhor desempenho, é preciso garantir que os atletas estão seguros; porém, poucos querem saber deles, mas sim do aspeto financeiro e do lucro”. O jogador do Manchester City terá razão.
Se olharmos para a Liga portuguesa, percebemos os problemas que, sobretudo, F. C. Porto, Benfica e Sporting têm enfrentado lesões.
No passado sábado, as águias perderam dois jogadores até ao final da época, Bah e Manu, com lesões ligamentares. Henrique Jones, antigo médico da seleção, disse recentemente que o aumento deste tipo de casos podem estar a surgir com maior frequência devido à alta densidade competitiva, pelo que não há dúvidas que é urgente reduzir o número de jogos, o que, face à previsível quebra de receitas que acarretará, conduzirá à necessidade de baixar a carga salarial. Estarão os jogadores dispostos a isso?

